Rodrigo Durão Coelho é escritor e jornalista.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Escrevo profissionalmente, sou jornalista, mas quando me proponho a escrever ficção, geralmente o faço de manhã. Adoro os momentos seguintes, a primeira meia hora depois que acordo.
As ideias brotam fáceis, é só coletar.
Depois, elas vão escasseando e vêm com menos facilidade, o dia contamina. Tanto que quando eu estou escrevendo ficção – escrevi dois romances – eu costumo dormir em dois ou até três períodos, dividindo o sono só pra poder acordar e usar a névoa da inspiração.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Quando não estou inspirado, eu ando. Se eu não posso dormir – só para acordar e escrever – e sinto que meu texto surge sem alma, eu paro e ando. Por uma hora. Sem pensar no texto, deixando fluir. Quase sempre, sem avisar, a magia acontece e a inspiração volta.
Daí eu tento não esquecer – anotar – os pontos mais importantes do insight e faço um roteiro para eu seguir, com frases completas, pensamentos e tramas a serem desenvolvidas quando sentar a bunda para finalizar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados. Minha meta é poder me dedicar à alguma história e, se consigo e estou inspirado no fluxo certo, o objetivo é continuar ate onde der. Dez, 12 horas que voam e dão orgulho.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu ponto inicial é me apaixonar por uma história, sentir que ela me fala fundo e que eu tenho algo a dizer, diferente, que nunca tenha visto antes.
Daí eu vou pensar em formato (primeira, segunda ou teceira pessoa do eu lírico) contexto, etc. A pesquisa vem por último.
Na verdade, prefiro não precisar tanto de pesquisa. Eu estudo só o essencial para que a história não desabe por alguma idiotice que eu escrevi por deixar de pesquisar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tentei drogas, álcool, técnicas variadas que vi por aí mas a única coisa que funciona mesmo é a minha mente querer de fato funcionar.
Os passos anteriores – dormir, andar, anotar, lembrar dos motivos que me fazem me apaixonar por um tema, esquematizar e escrever o desenvolvimento do capítulo ou do conto – são as ferramentas que uso para recuperar a habilidade de acessar esse lugar meu e genioso que é a inspiração.
Pra resumir, minha regra é nunca escrever sem inspiração. É importante manter o autorespoeito, rsrsrsrsrs.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu sentia um prazer maior antes em revisar. Costumo escrever em jorros e as vezes é dificil reescrever e ser fiel à intensidade da primeira vez.
Sim, ouço opiniões e me sinto muito à vontade de acatar ou rejeitar sugestões. Como gosto e vejo valor em coisas imperfeitas, às vezes sigo em frente apesar de conselhos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Podem ser ideias em um caderno – tenho muitos há décadas e os guardo todos. São preciosidades da minha arqueologia.
Na hora de escrever para valer, abro dois arquivos de computador, um de CONTROLE onde guardo anotações, esquemas e fragmentos mil e outro pra valer, do texto corrido.
No de Controle geralmente eu escrevo minha tarefa paro dia seguinte também indicações para mim mesmo como “cumprir de tanto a tanto na história” ou “ter inspiração para resolver o capítulo seguinte”.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acho importante estar atento ao que me interessa e entender por que tal coisa me interessou. Se é um filme, uma pessoa, situação, notícia, paisagem ou música. Uma ideia possível de passado, presente ou futuro.
Como sou jornalista, passo o tempo todo avaliando se as histórias rendem matéria. Meu cérebro está acostumado a pensar logo em como seria o título. Se rende ou não. Avalio se sigo em frente após essa primeira barreira.
Com ficção é parecido.
Já tive ideias que julguei incríveis mas não consegui transpor para o papel. É um desperdício de sentimento, inspiração e faz mal para a autoestima. Dessa forma tento ser prático. Isso me ajuda a não me perder em histórias que me parecem ótimas, mas em uma segunda examinada se mostram difíceis de serem transmitidas em toda sua grandiosidade.
Criatividade é hábito que se precisa permitir incorporar. É um misto de exercício e vício. É brincar mentalmente com as palavras, ideias, paisagens.
Daí é preciso aprender a como dar vazão à criatividade, qual o seu método, ser honesto sobre isso. Além de não ter vergonha de ousar e passar ridículo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não coloque metas que te assustam. Não diga “vou escrever meu romance”. É como querer casar sem ter pretendentes.
Você só vai parir um livro seu quando o tiver primeiro gerado dentro de si. Ou não, mas pelo menos comigo foi assim. Pressão só funciona com escrita do dia a dia, jornalismo para pagar contas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho continuações esquematizadas dos meus dois romances. Tenho um outro sobre versões alternativas da História, principalmente de futebol e do Pink Floyd. Tenho o objetivo de escrever bem sobre sexo.
Comecei a tomar gosto por escrever e publicar minhas poesias (@proibidinhadopalmeirao) e comecei a compor – bem – letras para minhas músicas em português.
Tenho alguns (uns 3) livros-reportagem esquematizados. Tento não me apaixonar por mais histórias e sentir a agonia de ver elas paradas, esperando o meu tempo – e o delas – chegar.