Rodolfo Araújo é escritor, dramaturgo, jornalista e mestre em comunicação e semiótica pela PUC/SP.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Para quem tem um bebê, a rotina é simples: ele determina o despertar. Depois, tentamos tomar café da manhã juntos. Deixamos (eu e minha companheira) ele pronto para o restante do dia e começamos a trabalhar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou um bicho noturno, mas a paternidade me fez aproveitar qualquer lacuna do dia para escrever. Até no metrô, em movimento, tenho rabiscado poemas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo de maneira esparsa, sem metas. Sigo o fluxo das provocações que o ambiente me traz. Quanto mais desafiadoras, mais motivado me sinto para produzir a partir delas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é muito orgânico; não faço parte de uma escola excessivamente linear e estruturalista. O processo de pesquisa é permanente a partir do momento em que considero obrigatório estar sempre aberto para o mundo – não há outra forma de ampliar o repertório. E essa camada racional, enciclopédica, encontra-se com meus sentimentos e meu inconsciente, gerando fagulhas produtivas. Não sou um Hemingway.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Um grande problema só pode ser resolvido por partes. O grande remédio para a procrastinação ou paralisia é a ação. Há que escrever, escrever, escrever.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eventualmente mostro a pessoas de estrita confiança, mas nunca durante um processo – sempre compartilho versões finais. E elas são revisadas quantas vezes for necessário. É importante dar aos textos o devido descanso.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Depende do que estiver mais à mão. Sem preferência.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Repertório. Ler, ouvir e assistir de tudo, observar as pessoas, especular comportamentos, viajar, andar pela rua e cultivar o silêncio.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Seja mais objetivo. Escolha as palavras que realmente fazem a diferença. E não seja um aprendiz de Werther.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Acho que ambas as perguntas são uma só. O livro que desejo escrever é o que quero ler. E ele é feito de poemas que capturem o máximo possível da contemporaneidade.