Roberto Rillo Bíscaro é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Durmo pouco e acordo muito cedo, às vezes, antes das seis da manhã já estou buscando pautas para escrever a respeito, em sites de música. É importante dizer, que atualmente dedico-me prioritariamente a escrever resenhas sobre álbuns, filmes e séries, além de notas sobre rock para um site especializado. Desse modo, às vezes, tenho algumas notas mentais feitas, antes mesmo do café da manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Vivo em uma região muito quente, no noroeste do estado de São Paulo, então, o período em que produzo mais e escrevo “melhor” é o da manhã, quando mais fresco. Também é questão de hábito conveniência. Leciono no Instituto Federal e não tenho atividades pela manhã, então criei o hábito de produzir mais nesse período.
Não tenho ritual de preparação para escrita, mas, percebo que desenvolvia alguns subterfúgios até inconscientes para procrastinar. Por exemplo, quando escrevia minha dissertação e depois a tese, parece que dava vontade de ir ao banheiro ou fumar, justo na hora de sentar para escrever! Isso diminuiu bastante e mesmo quando percebo que pode ser procrastinação, luto contra. Ou não, porque escrevo meio que sem compromisso. Tenho que atualizar as seções do blog diariamente, claro, mas tenho estoque de resenhas para queimar e também, se não atualizar ou enviar resenha para os sites colaborativos não acontecerá nada. Assim, por vezes cedo à procrastinação, insegurança, preguiça, seja lá o que for. Mas, hoje isso quase não sucede.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um bocadinho quase todos os dias, inclusive sábados e domingos. Sem muitas metas ou prazos, é uma maravilha ser livre e poder escrever apenas sobre o que escolho. Como o Whiplash renova seu conteúdo diariamente e gosto de ver minhas notas publicadas lá, sempre tento pelo menos enviar alguma coisa. Mas, se não tenho tempo ou não aparece banda que valha a pena indicar, sem problema. Só contribuo com sites colaborativos e minha renda vem da docência, então é tudo bem relaxado. Eu é que gosto de espalhar meus textos, ser lido, então escrevo sempre. A meta é me satisfazer.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Só escrevo sobre aquilo de que realmente tenha vontade, então o processo de busca de informações sobre o filme/álbum/série/artista é sempre prazeroso, mesmo quando é algo de que não tenha gostado e vá falar mal. Então, uma vez decidido a escrever sobre “x”, pesquiso sobre a obra em si, e, por vezes, sobre assuntos abordados nela, para estofar um bocadinho a resenha.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes, cedo aos prazeres da procrastinação, porque não tenho prazos. Mas, mesmo quando isso ocorre – raramente, hoje em dia – compenso fazendo alguma coisa que, depois, pode virar resenha ou nota! Por exemplo, tenho preguiça de transformar as notas sobre um álbum em texto, então, vou ver um capítulo de série ou ler um trecho de algo ou buscar informações sobre um filme. Assim, não é tempo perdido; é potencial inspiração para outro texto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Resenhas são bem mais curtas e despretensiosas que um artigo acadêmico, mas tomo com a mesma seriedade. Criei um banco de textos que me permite certa folga para não precisar me esbaforir em redigir para publicar em seguida. Claro que às vezes acontece de ter que ser rápido por questões de pauta. A Netflix adiciona minissérie na quinta e minha seção de TV é na terça. Então, começo a ver e se der tempo, tento publicar algo na terça. Nesses casos, a revisão ocorre apenas uma vez. Mas, normalmente, escrevo e deixo o texto na “geladeira”. Só depois de dias é que irei revisá-lo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Se são resenhas de filmes ou séries, escrevo direto no computador. Resenhas de álbuns são as mais complexas, porque envolvem repetidas audições para busca de influências e características de cada canção. Nesse caso, tenho um caderninho de anotações, onde “estenografo” notas para consultar na hora em que sentar em frente ao notebook e começar a redação.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Consumo muita música e audiovisual, além de livros (atualmente prefiro os sobre os assuntos sobre o que escrevo), então, ideias não faltam, porque dependem de essas produções me motivarem ou não a falar sobre elas. Não tenho o menor problema em interromper filmes, séries, álbuns, livros, assim, como há aqueles que leio/ouço/assisto integralmente, mas não me dão vontade de escrever a respeito.
No caso, há que se manter informado, mais do que criativo, creio. Por exemplo, escrevo muito sobre séries policiais escandinavas e britânicas, os Nordic e Celtic Noir, ou sobre rock progressivo sinfônico, ou sobre cantoras negras de R’n’B e soul. Tenho que estar sempre atento a esses nichos não apenas para saber de novidades, mas para poder estabelecer relações entre as obras.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O processo de escrita tornou-se mais rápido e fluido, mas jamais “fácil”. Mentiria se dissesse que sento e uma resenha sai como macarrão instantâneo, em três minutos. Às vezes, paro e vou conferir a rede social, deitado, no celular; outras sai mais velozmente, mas nunca é “fácil”.
Eu diria para não se preocupar tanto, mas de nada adiantaria, porque, mesmo exercendo um hobby, eu me preocupo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Já lancei minha autobiografia, em 2012, pela EDUFSCAR. Chama-se Escolhi Ser Albino. Às vezes, penso em começar a segunda parte, várias coisas boas e más aconteceram desde o período abrangido por aquela narrativa.