Roberta Gasparotto é psicóloga, escritora e poeta.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não sou uma pessoa que goste de estabelecer rotinas, ainda mais em se tratando da escrita. Não importa o momento do dia, da noite, ou da madrugada, apareceu a vontade de escrever, eu vou lá e escrevo. Minha escrita tem muito mais a ver com desejo de expressão do que com obrigação.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Qualquer hora é hora de escrever. Se vem uma emoção, ou uma inspiração através de uma imagem ou um texto, vou lá e escrevo, sem ritual algum, a não ser o desejo de derramar algo no papel. Um dia estava em uma aula chatíssima e comecei a escrever sobre aquilo. Rendeu um belo conto!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu não estabeleço metas para a escrita, pois tenho certeza que essa obrigação, por si só, atrapalharia o meu processo criativo. Escrever para mim é uma grande brincadeira, no sentido de ser algo lúdico e leve, mesmo se o que eu estou escrevendo seja algo dolorido. E eu sou uma pessoa que levo a brincadeira muito a sério! Normalmente, não fico mais de três dias sem escrever alguma coisa. A escrita, em minha vida, se tornou algo visceral.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando me dá vontade de escrever, eu sento e escrevo. Se é de madrugada, escrevo na cama, mesmo. Nem sempre sai algo bom, aí desisto. Mas, também, não sou de ficar elaborando muito um texto. Ou ele sai, ou não. E, o mais interessante, não quero reter nada para mim. O que escrevo, já compartilho nas redes sociais. Normalmente, no mesmo dia. Compartilhar , para mim, é parte essencial do processo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu comecei a escrever há dois anos e meio, e, graças a Deus, não tive nenhuma trava na escrita – ainda. Talvez isso aconteça porque, quando bate alguma dificuldade eu vou lá e escrevo sobre ela. Eu adoro quando recebo um feedback positivo dos leitores, mas não escrevo pensando nisso. Se assim fizesse, acredito que minha escrita ficaria maçante e desinteressante, e a ideia é que eu aproveite ao máximo o processo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando eu faço um poema, uma crônica, ou um conto, eu reviso umas duas vezes e já compartilho nas redes. Não costumo mostrar antes para as pessoas. Acho que, aos poucos, a gente vai criando uma segurança, e uma crítica sobre o nosso trabalho, no sentido de saber o que está bom e o que não está. Pelo menos comigo, é assim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu tenho um caderno para a escrita, e quando estou em casa, o utilizo. Quando percebo que já tenho uma ideia pronta , escrevo direto na linha do tempo do Facebook. Isso acontece com grande frequência.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Acho que a maior parte das minhas criações, são a junção de dois fatores: muita leitura e muita introspecção. Estar conectada com minhas emoções e com meu mundo interior, para mim, é fundamental no processo da escrita.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu comecei escrevendo crônicas, depois poemas, depois contos. Acredito que minha escrita foi se tornando mais refinada e sutil. E, para isso, foi fundamental escrever, e também, ler muito. Ao contrário de outros autores que dizem detestar o que escreveram no passado, eu tenho uma relação de carinho e gratidão com tudo o que escrevi – mesmo que tenha alguma crítica a fazer. Se cheguei até aqui, foi, também, em virtude dos meus erros. E , procuro , sempre, me desculpar. A culpa em nada nos ajuda, só atrapalha.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Os projetos vão acontecendo naturalmente, não fico fazendo muitos planos. Percebo que, à medida que eu vou tendo a coragem de dar meus passos, os caminhos vão se abrindo. Quanto à leitura que gostaria de ler, acho que autobiografias em que as pessoas mostrem mais suas fragilidades e seu lado humano. A espontaneidade me fascina e encanta.