Rita Queiroz é professora, escritora e poeta, doutora em Filologia e Língua Portuguesa pela USP.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sempre começo meu dia fazendo orações e bebendo água. É meu ritual sagrado.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Isso varia muito, geralmente gosto de escrever no final da tarde e primeiras horas da noite. Mas há momentos que escrevo pela manhã também, depende do insight.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Há um ano faço parte de um grupo chamado “Ciranda Poetrix”, no qual tenho de escrever praticamente todos os dias poemas curtos, com três versos e no máximo trinta sílabas (o poetrix, que leva um título também). Mas, às vezes, passo dias sem escrever, o que me deixa um pouco angustiada. Agora, em pleno janeiro, de férias, tenho escrito quase todos os dias. Como estou na praia, o mar me inspira.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita é muito intuitivo. Pessoas amigas às vezes me dizem que minha escrita se parece com a de alguém famoso, mas que li há muitos anos. Tudo o que leio, anoto trechos ou frases, ou mesmo palavras, e guardo, deixo lá no baú (rsrsrsrs), um dia volto lá e remexo nos escritos. A partir do momento em que começo a escrever, tudo flui, as ideias vão surgindo, rabisco, risco, mudo e o texto sai.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando vem uma ideia, a procrastinação não me pega (rsrsrs), passo tudo para o papel. O medo não me apavora, pois sempre haverá quem goste e quem não goste daquilo que escrevo. Às vezes, acho que o texto não está bom e alguém faz análises e aponta marcas que nem imaginei quando escrevi.
Ainda não tive fôlego para projetos longos, como um romance, por exemplo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando gosto do que escrevo, faço pouca revisão. Quando sinto que o texto ainda precisa de maturação, reviso muitas vezes. Sempre mostro meus textos antes de publicá-los. Envio para algumas amigas, duas ou três, no máximo, e aguardo o feedback.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou das antigas, apegada ao papel. Escrevo à mão primeiro, mesmo um texto mais longo, como uma crônica ou conto, depois que digito, quando envio para as amigas. Em situações nas quais não tenho papel em mãos e a ideia está martelando na cabeça, escrevo no celular, o que tenho feito ultimamente com os poetrix.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Os hábitos mais salutares para a criatividade são a leitura e a observação do cotidiano.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A maturidade sempre nos traz novos ventos. Isso se reflete também naquilo que escrevo. Sempre digo a mim mesma e a outras pessoas que escrevem: tudo é reflexo do momento, das condições de produção. Se voltasse atrás sendo o que sou hoje, mudaria algumas coisas, mas se fosse a mesma, escreveria o que escrevi, porque faz parte do processo de aprendizagem e maturação.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria muito de escrever um romance, mas ainda me falta fôlego. O livro que gostaria de ler e ainda não existe seria esse.