Ricardo Silvestrin é escritor e músico.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho trabalhos com horários variados, portanto não começo todos os dias da mesma maneira. Mas, normalmente, tomo meu suco, como algo, vejo o facebook, vou à mercearia…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor à noite, entre 23 e 1h. Não tenho ritual. Mas, muitas vezes, leio boa poesia e acabo escrevendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todos os dias. Fiz uma experiência de escrever um poema por dia para ver até quando aguentava. Foram 98 dias. Essa série integra meu livro O Menos Vendido, na seção que chamei de A poesia de cada dia. Mas só escrevo em uma quantidade de dias seguidos quando estou aprontando algum livro. Fora isso, são em períodos esparsos. No entanto, não fico mais de um mês sem escrever algo. Também, além da poesia, seguidamente me pedem um artigo, um texto para orelha de livro, um prefácio. Gosto de ter demandas, senão as minhas, as de outros, pois gosto de escrever. Na escrita do romance O videogame do rei, que lancei em 2009, passei um logo tempo de escrita contínua.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Na poesia, trabalho ou com poemas isolados ou com uma série que parte de uma ideia seja formal ou temática, ou formal-temática. Nos esparsos, vou escrevendo normalmente a partir do desejo de escrever. Ou porque li poetas que me instigaram a escrever ou porque faz tempo que não escrevia e fiquei com saudade. Nos projetos, insights que rendem uma série, o caminho já está apontado, mas, como é criação, e criar é fazer o que não existia antes, tem que por a mão na massa e descobrir no que vai dar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho travas para escrever o que eu gosto. Normalmente, não tenho previamente nada para dizer e começo a escrever pelo desejo de escrever. Se não for poesia, for um projeto de outra área, já sei que escrever se faz escrevendo. Começo a escrever e a coisa vai fluindo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Poesia gosto de escrever até ficarem os poemas prontos. Gosto de começar e terminar. Durante esse processo, vou escrevendo, trocando, até ficar do meu agrado. Depois, quando releio, quando estou organizando um livro, fazendo a seleção, pode mudar alguma coisa, normalmente pequena. Mas, como trabalhei bastante para cada poema ficar pronto, sobra pouca coisa para alterar. Mostro para minha esposa, que é uma ótima leitora. Os livros de prosa que escrevi, o romance que citei e o livro de contos, Play, mesmo sendo textos longos, têm um processo de escrita parecido com o da poesia. Gosto de trabalhar frase a frase, de gostar de cada frase, de ir compondo o conjunto passo a passo. Assim, sobra pouco para mudar, pois já trabalhei durante a criação. A revisão acontece, mas não sou daqueles que jogam tudo no papel e depois trabalham. Trabalho durante a criação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no computador. Hoje, depois que comprei um iPad, escrevo com o dedo na tela.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Como disse, escrevo do prazer de escrever. Não escrevo a partir de ideias. Começo a escrever e aparecem as ideias. Ou tenho um insight, um caminho, por exemplo, ouvir uma banda de rap, como a US3, e escrever a partir de suas métricas. Ou escrever encontrando narrativas possíveis em quadros de pintores brasileiros do século XX. Ou escrever a partir de recortes e colagens. Enfim, a ideia não precisa ser um conteúdo. A ideia pode ser um processo de criação a explorar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não mudou nada. Sempre fui curioso. A curiosidade de conhecer a poesia dos outros, de várias épocas, de vários lugares. A curiosidade com a arte como um todo, tudo isso sempre moveu minha escrita para ir encontrando novos modos de criar. Uma coisa, no entanto, posso dizer que se acrescentou. Da experiência de escrever prosa, gostei da contundência. Busquei escrever, a partir disso, poemas com densidade de prosa.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler?
Sou de começar os projetos que gostaria de fazer. Se ainda não comecei algum, é porque ainda nem o intuí. Tem muita coisa que ainda não li e gostaria de ler. Que bom!