Renata Belmonte é escritora.
A literatura está entranhada em mim, é um modo de vida que vai se impondo, nos mais diversos momentos do meu dia. Recentemente, enquanto observava meu marido mergulhar numa piscina, fiquei surpresa ao me descobrir tentando encontrar formas distintas de descrever tal cena. Ser uma escritora, muitas vezes, mesmo que apenas por instantes, me transforma numa terceira pessoa, em situações nas quais eu deveria ser protagonista. Estes exercícios inconscientes de narração, estes desafios mentais estilísticos, já são uma espécie de hábito, uma conversa frequente que tenho comigo mesma e funcionam como atos preparatórios para o momento em que eu for colocar as palavras no papel. Mas o fato é que, não raro, fujo da escrita em si. Sinto tanto prazer em construir mundos novos que acabo tragada pelo meu próprio processo criativo e isto, às vezes, é bastante exaustivo, difícil de ser absorvido numa rotina cotidiana de afazeres. Tendo também a me apegar bastante aos meus textos, faço muitas revisões, ao longo da produção. Então tudo acaba funcionando de um jeito meio caótico, como uma espécie de jogo de gato e rato: apesar de quase sempre ter um esqueleto prévio, vou relendo e escrevendo pedaços, tomando notas esparsas, encaixando frases em coisas que pareciam antes definidas e assim por diante. Os destinos das minhas histórias nunca estão determinados, deixo que fluam e se revelem, no seu próprio tempo. De todo modo, percebo que, ainda que meus temas de interesse estejam se modificando com o passar dos anos, é sempre a paisagem humana, em suas verdades mais cruas e fundamentais, tanto o meu ponto de partida quanto de chegada.