Regina Azevedo é poeta, autora de “Das vezes que morri em você” (2013).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Correndo pra fazer as coisas a tempo e chegar até às 7h no IFRN, onde faço o curso técnico integrado de multimídia. Quando falto o IF (algo mais frequente do que eu gostaria de admitir) ou quando é fim de semana, consigo ter uma rotina mais tranquila e calma, o que me faz muito bem. Sou acelerada e ansiosa, mas gosto muito quando posso e consigo fazer as coisas com mais tranquilidade e percepção. Quando tenho essa oportunidade, a rotina inclui fazer uma tapioca, tomar água de coco, ouvir música e me espreguiçar. Também gosto de ficar na janela vendo se os gatos da vizinha aparecem na varanda, ler um livro, fazer tudo além do obrigatório.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
À noite. Pela manhã geralmente estou assistindo aula, e à tarde fico muito dispersa, fazendo mil e uma coisas e às vezes nada. Mas à noite, talvez pelo silêncio, pela proximidade do fim do dia, eu consigo focar mais. Ritual-ritual acho que não, mas tenho coisas que gosto de fazer e que me inspiram, como tomar um banho quente, ficar sozinha, ir à praia, escrever diversas palavras num caderninho, na ordem que me vierem à cabeça.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas de escrita. Tem dia que escrevo dois, três poemas de uma vez e ainda gosto deles, mas tem fases que fico um mês inteiro sem um poema pronto. Tento respeitar a minha poesia. Faço alguns exercícios de escrita como colagens, busco sempre ler muito, mas às vezes tenho uma ideia básica de poema que não se desenvolve no momento, e aí anoto, guardo, não tenho problema em voltar para ele depois, reler, reescrever, ter novas ideias. Aquela coisa de conviver com os próprios poemas, acho, está acima de qualquer meta. Meta eu faço para beber água, para me disciplinar com leituras, mas acho que a poesia sempre diz “comigo não”. Deixo acontecer.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu anoto muito. Tudo. Às vezes uma música me chama atenção no meio de uma festa, e depois aproveito algum verso dessa música, seja pelo ritmo, por uma palavra, uma ideia ou até mesmo a construção da frase. Anoto coisas que as pessoas dizem. Vários dos meus poemas são poemas meus e dos meus amigos, meus e dos meus avós, meus e de algum amor, meus e de algum desconhecido. Para mim é mais “fácil” começar já com anotações, com uma ideia mínima à minha frente, que me guie sobre o que quero dizer. Mas também tem os poemas mais viscerais, ou que simplesmente surgem em períodos mais difíceis para mim, que eu escrevo na hora que bate, e eles é que vão me explicando o que eu estou sentindo, pensando, querendo dizer.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Minha maior trava sem dúvida é a ansiedade. Mas isso é pra vida. Pra mim é muito difícil frequentar lançamentos de livros, saraus, bate-papos… Tem dias que realmente não dá. Mas pra escrever não costuma ter impedimento. Pelo contrário, porque o poema é quem manda. O poema é meu jeito de me manter viva.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso bastante, geralmente. Sempre tive o hábito de ler os poemas em voz alta, principalmente durante o próprio processo da escrita. Mostro para alguns amigos poetas vez ou outra, e para os meus amigos – “olha o que aquilo que você disse virou, olha nosso poema”.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A internet me traz muitos presentes. Gosto dessa possibilidade de nossos livros e textos passearem, da proximidade entre leitor e escritor, da democratização da leitura. Foi através da internet que aos doze anos enviei meus primeiros poemas para Daniel Minchoni, poeta, que posteriormente me ajudou a publicá-los. Aos treze anos, ainda sem livro, participei via Skype de um sarau na mostra Tuiteratura, de São Paulo, a convite de Marcelino Freire.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Elas vêm de tudo que eu vivo, vivi. De tudo o que sonho ou imagino, leio e penso, escuto e falo. As ideias às vezes surgem de uma piada, diante de um susto, depois de um medo, um trauma muito grande. Ou olhando no olho de uma paixão, me incomodando com algo, querendo gritar ou pedir silêncio. Para me manter criativa, tento prestar muita atenção a tudo. O carro que passa, a palavra que alguém escolhe para dizer algo. Acho que a poesia nasce, de certa forma, da atenção.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O processo é basicamente o mesmo, mas o que mais mudou foi o meu amadurecimento em relação a questões como “o que será que vão dizer dos meus textos?”, “será que vão me olhar torto?” Hoje em dia eu sei que sim, vão me olhar torto, como olham e olharam para todas as poetas e os poetas que vieram antes de mim. Eu sou mulher, nordestina, e escrevo poesia sobre muitas coisas, inclusive sexo, desde os doze anos. Hoje em dia eu penso: já que sempre vão olhar, pelo menos que olhem e vejam quem eu realmente sou e quero ser. Sempre diria: “continue a escrever”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um livreto com poemas e fotografias sobre São Paulo, que foi uma cidade que mexeu bastante comigo. Já comecei e se chama “Cinzeiro”, mas ainda sinto que falta muita coisa. O livro, bem, qualquer livro que meus poetas preferidos não tenham escrito ainda.