Regiane Folter é escritora e comunicadora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu sou bem morning person, gosto de acordar cedo pra fazer minhas coisinhas antes de começar a trabalhar. Então num dia normal eu acordo, me troco, preparo o café da manhã e como enquanto leio o livro de cabeceira do momento. Depois dou uma organizada nas coisas e ligo o computador pra começar o dia laboral. Alguns dias também gosto de acordar e sair pra caminhar antes de qualquer coisa, parece que já começo o dia com mais energia! Menos no final de semana né, porque dormir até mais tarde também é necessário às vezes haha!
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre preferi escrever de manhã, acho que antes do almoço é quando tenho mais energia e foco. Porém, há alguns meses por uma mudança de trabalho tive que repensar a minha rotina e agora tenho escrito de tarde. Foi uma mudança interessante, porque me fez buscar novas formas pra me concentrar e me inspirar num horário no qual não estava acostumada. Mas estou gostando, acho que provei pra mim mesma que quando a gente quer algo, é preciso se dedicar a isso mesmo quando as condições não são ideais. Não tenho muito ritual para a escrita, simplesmente me sento com o computador e deixo fluir. Escrevo mais no computador que em papel, mas também tenho meus caderninhos. Dependendo do texto, parece que flui melhor com o teclado ou à mão. Mas uma coisa que sempre me ajuda é escutar música enquanto escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tento escrever pelo menos um pouquinho todos os dias, uma hora ao menos. Como não me dedico 100% à escrita porque também trabalho com outras coisas, considero que é muito importante chegar a essa meta diária para não deixar o sonho da escrita esfriar, sabe. Então é sagrado para mim definir um horário e cumprir com isso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quase sempre, qualquer coisa que escrevo nasce de algo que vivi ou senti em algum momento. Anoto ideias que vou tendo ao longo do dia numa nota no celular de quando chega o horário de trabalhar nisso abro o Evernote e mando ver. Primeiro escrevo sem muita regra, somente coloco no papel o que estou sentindo ou pensando, e depois de terminar volto pro começo do documento e reviso tudo. Daí espero alguns dias e volto a editar o texto, com a cabeça mais fresca e desconectada. Funciono assim para as coisas que escrevo para o Medium, principalmente crônicas e poemas. Como podem ver não é um processo muito organizado haha! Recentemente escrevi uma história de ficção mais comprida, algo que está entre um conto e uma novela, e aí sim usei um método mais ordenado: antes de começar a escrever criei uma linha do tempo da história, pra ter mais claridade sobre como deveria ser o começo, o meio e o desfecho. Depois, escrevi mais ou menos um capítulo por dia. Acho que para histórias maiores é um processo bacana porque me ajudou a não me perder e realmente escrever a história que tinha imaginado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes fico sem ideias, vazia, sem saber sobre o que escrever. E aí ter a pressão interna de cumprir com passar ao menos uma hora escrevendo sem ter ideia do que fazer me deixa mal. Nesses momentos, o que mais me ajuda a gerar novas ideias é buscar desafios de escrita e coisas assim. Sigo alguns Instagrams por exemplo que publicam diariamente uma ideia para que as pessoas escrevam sobre isso. Também participo do projeto Asterisk, que mês a mês manda um tema pra galera escrever sobre. Para mim são ótimas ferramentas para atiçar a imaginação e se inspirar. Outra trava que às vezes tenho para trabalhar em projetos longos é que enjoo facilmente das minhas ideias. Penso em escrever um romance e trabalhar meses nisso e confesso que me dá um pouco de preguiça. Já tive milhares de ideias para livros, mas normalmente abandono antes de avançar muito porque sinto que perde a graça ou que não era tão boa ideia assim. Como comentei na pergunta anterior, recentemente escrevi um texto bem maior dos que estou acostumada, e foi uma boa experiência. Fiquei muito orgulhosa por ter encarado esse projeto e principalmente por ter terminado a história. Acho que ter feito um planejamento prévio foi chave para continuar apaixonada pela ideia enquanto ia criando a trama.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Os textos que publico lá no Medium normalmente reviso umas duas vezes antes de publicar. Como tento publicar semanalmente no Medium, por uma questão de praticidade, não mostro esses textos para outras pessoas antes. Mas quando trabalhei no meu livro AmoreZ, que é uma coletânea de contos e crônicas que criei ao longo de muitos anos ao redor do tema amor, achei que era importante ter mais opiniões antes de lançar o livro. Então me comuniquei com várias colegas e amigas e pedi que lessem o livro e me dessem seu feedback antes de avançar com a publicação. Foi ótimo, elas realmente me fizeram ver as coisas desde outra perspectiva, então com certeza planejo continuar trabalhando com leitores beta em projetos maiores como foi esse.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje em dia escrevo quase sempre em notas no Evernote que organizo em cadernos digitais de acordo com o projeto e gosto bastante da plataforma, estou acostumada a escrever lá. Alguns textos nascem em papel, principalmente se são fruto de algum sentimento ou situação específica que esteja vivendo; nesses casos, sinto que flui mais fácil com o caderno ao invés de ir pro computador, mas depois sempre passo o texto pro digital. Não uso muitos aplicativos no geral, para textos em inglês gosto do Hemingway Appque me ajuda a aprimorar a escrita, mas nunca encontrei nada similar em português. Uso também alguns sites online de sinônimos ou gramática pra tirar dúvidas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sempre li muito e acredito que a leitura me ajuda a ser melhor escritora. Me inspiro muito com os livros que leio, então essa é uma prática que espero não deixar nunca. Depois como comentei antes, descubro ideias de textos no meu dia a dia, momentos de alegria, tristeza, descobertas e situações similares que me fazem ter vontade de escrever. Quando o tema é mais ficcional, uso bastante ferramentas de geração de ideias como os exemplos que comentei anteriormente.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que a principal mudança foi ter colocado a escrita como uma prioridade e ter absorvido essa prática no meu dia a dia. Quando era mais jovem, escrevia de vez em quando, não era algo tão presente na minha rotina. Acho que embora sempre tive o sonho de ser escritora, somente nos últimos anos decidi encarar essa ideia como um projeto, um trabalho realmente, que requer dedicação diária e esforço. Então se eu pudesse dar um conselho a mim mesma, adoraria ter começado esse processo antes e não ter deixado a escrita em segundo plano.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de desenvolver algumas das ideias de livros de ficção que tenho na cabeça. Em particular, tenho uma ideia de uma trama fantástica bem diferente do que venho escrito nesses últimos anos que gostaria muito de realizar. É algo meio de realidades paralelas e magia, uma temática que sempre amei e que nasceu do impacto que sagas como Harry Potter e The Witcher geraram em mim. Sem dúvida é o projeto que tenho na cabeça há mais tempo, mas nunca dei o primeiro passo. Também tenho muita vontade de participar do NaNoWriMo, acho que é um projeto muito interessante e desafiador! Quem sabe novembro de 2021 é meu mês.