Ray Tavares é escritora, autora de Os 12 Signos de Valentina.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia começa corrido – infelizmente, eu ainda não consigo viver 100% da escrita e tenho um trabalho “formal”, então acordo todos os dias às 6h, tomo banho, me arrumo, tomo café (quando tenho tempo) e saio de casa para estar no trabalho às 8h30.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Atualmente, trabalho das 8h30 às 17h30 (quando não mais), então só consigo escrever depois desse horário, mas eu não tenho um “melhor horário”, sinto que tenho melhores “humores” para escrever. Quando estou muito cansada ou muito estressada, eu nem tento, porque sei que vai ficar ruim ou vou apenas me irritar. Também não tenho nenhum ritual… acho que preciso estar confortável e em ambiente silencioso (não consigo escrever ouvindo música, por exemplo), fora isso, não faço nada atípico ou especial, apenas sento e escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Antigamente, quando apenas estudava, eu escrevia todos os dias, porque tinha mais tempo e disposição – eu não tinha meta, mas produzia bastante, porque minha mente estava sempre “descansada”. Atualmente, escrevo quando sinto que estou bem para isso, porque tem dias que não consigo escrever nada depois de horas estressantes no combo trabalho e trânsito. Cheguei à conclusão de que não adianta me forçar; nesses dias em que estou irritada, cansada ou estressada eu sei que não vou conseguir produzir nada que preste, então prefiro ler um bom livro, estudar sobre escrita, assistir vídeos sobre produção de texto e roteiro, porque me inspira para a hora que eu for de fato escrever e sinto que não foi um dia “perdido”.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu problema nunca foi começar, inclusive, tenho um milhão de projetos começados no computador – meu problema sempre foi continuar. Eu tenho ideias e o começo sempre voa. Pesquiso, anoto, faço o roteiro, é quase uma obsessão! Adoro roteirizar as minhas ideias, criar personagens, pesquisar sobre o que quero abordar, faço esquemas, planilhas no Excel. É uma loucura! Depois chega aquela fase “morna”, a jornada do herói em si, e acabo tropeçando, porque eu sou uma pessoa ansiosa por natureza, e quando preciso de fato pegar um personagem e levá-lo do ponto A ao ponto B, fico pensando no ponto B, e não no trajeto que ele vai percorrer para chegar lá. É algo que preciso trabalhar constantemente, porque a jornada é o que o leitor de fato gosta e consome. Sempre ouvi que ler um livro meu é muito “rápido”, é uma leitura muito dinâmica, e acho que devo muito disso a essa ansiedade que faz minha narrativa se mover rapidamente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que como todo escritor: vivendo um dia de cada vez. Tem dias que eu sinto como se tivesse nascido para escrever, e tem dias que sinto como se eu fosse uma farsa. Mas acho que todo ser humano se sente assim, em qualquer trabalho que se proponha a fazer, não é mesmo? Bloqueio sempre vai existir e cabe a nós exercitar o cérebro para que ele encontre a próxima inspiração, a próxima ideia, aquela fagulha que incendeia a vontade de criar – sempre que acontece comigo, eu leio, leio e leio, porque sempre me inspira. Procrastinar é natural do ser humano e eu confesso que, dos problemas do escritor, esse é o que mais me afeta; não posso dar muitas dicas, porque ainda estou tentando me livrar disso, e até acho que produzo melhor sob pressão, quando o prazo está se aproximando. Não corresponder às expectativas aconteceu com todas as mentes brilhantes que já passaram pela Terra, então por que não assolaria uma escritora de primeira viagem? Tento me acalmar, afinal nem Jesus Cristo agradou a todos. E, finalmente, trabalhos longos não me deixam ansiosa, me deixam ocupada por bastante tempo, o que me deixa feliz em saber que terei aquele grande período de tempo para me dedicar ao que eu mais amo: escrever.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes, mais vezes do que considero saudável, eu reviso até odiar o que eu escrevi, e é aí que entrego na mão de Deus, ou, nesse caso, na mão da editora (ou nas mãos do público online). Não, não mostro para ninguém antes de considerar “pronto”, porque acho que escrever é um trabalho solitário, e ter alguém palpitando é contraproducente. Prefiro falar “é isso aqui a versão pronta, agora me fale se você gostou (se for o público) ou como posso melhorar (se for a editora)”.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Lá no começo, na minha pré-adolescência, escrevia nos cadernos de física durante as intermináveis sessões de tortura que eram as aulas. Mas desde que comecei a postar em plataformas online eu não escrevi mais nada à mão – talvez uma ou outra cena quando estou em algum lugar sem acesso ao computador, mas só isso, todo o resto é no computador. Cresci em uma casa com computadores, meu pai trabalhou com Tecnologia da Informação a vida inteira, então gosto da tecnologia, eu e ela nos damos muito bem.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não sei de onde vêm as minhas ideias… sou uma pessoa muito musical, então muitas das minhas ideias de plots e cenas vieram de músicas que ouvi, mas outras apenas vieram, no trânsito, no chuveiro, na cama, no trabalho. Não sei explicar muito bem de onde vêm. Mas eu mantenho o meu cérebro criativo com o hábito da leitura, porque nenhum escritor que queira continuar produzindo pode parar de ler. Ler é o combustível do escritor.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Acho que diminuí bastante a minha produção, mas isso devido ao tempo que tenho disponível, só que a qualidade do que produzo aumentou também, devido à maturidade e à prática. Além disso, fiquei bem mais crítica em relação ao que escrevo, conheci novas técnicas e estruturas, então acho que tenho mais ferramentas disponíveis à minha disposição. Se pudesse voltar ao passado, diria apenas para que a Raissa iniciante continuasse lendo e escrevendo, e que aquilo a levaria a lugares que ela nunca imaginou que iria chegar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever o roteiro de um filme ou série – acho que seria incrivelmente engrandecedor e desafiador. Os livros que gostaria de ler e não existem eu pretendo escrever um dia.