Raquel Ordones é escritora e poeta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo bastante cedo, diariamente às 5h, com o rádio já ligado (durmo com música). E me levanto sem soneca…
Orações em agradecimento e um banho bem esperto são meus companheiros desde sempre, não me lembro de não tê-los comigo desde que me entendo por “gente”. Lavo os cabelos “banhalmente”, e os penteio com os dedos, não saio pra rua sem esse feito.
Um lápis no olho, um batom cor de boca, um borrifar de um perfume bem suave e bom humor me trajam rotineiramente, além de um creme aqui e outro ali…
Eu e minha cachorrinha acordamos meu filho Greg todas as manhãs um pouco antes das 7h.
Abro a porta da sacada para ela estar mais próxima da rua (nos finais de semana faço caminhada e a levo comigo, ela se chama Uli, é uma Shih Tzu – preto e branco).
O café é essencial…
Os 15 degraus da escada que me leva à rua são necessários.
Entre minha casa e o meu trabalho há um ‘espaço de tempo’ de 8 minutos de carro e às vezes dá tempo para uma fotografia ou outra. Uma paixão.
Bato o ponto alguns minutos antes das 8h, entre ‘bom dia’, ‘beijos’ e ‘flores’. Em seguida, atividades costumeiras voltadas para o administrativo, tudo muito parecido. E a minha manhã termina às 13h quando saio para o almoço.
E se escrevo nesse período?
Sim, quase sempre roubo um tempinho do meu trabalho, quando bate na mente aquela vontade de “printá-la” em todas as cores no papel…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Desde muito cedo comecei a trabalhar e qualquer que fosse a tarefa eu sempre procurava aprender e executa-la o mais próximo do que deveria ser. Nunca fui preguiçosa, mas geralmente a parte da manhã é mais convidativa aos afazeres, há uma disposição maior; provavelmente por eu estar chegando de um descanso, óbvio! Mas levo o dia todo numa boa, fechando o expediente às 18h, lembrando que ao chegar em casa, continua… Mais afazeres me esperam…
Quanto à escrita, esse trabalhar prazeroso com a mente, que literalmente faço com “uma mão” não tenho rito algum, escrevo em qualquer tempo e lugar, com barulho ou sem; lápis, caneta ou teclado, às vezes gravo a ideia principal no celular para não perder a oportunidade do poema/texto, e se perco é porque não era para ser… E muitos outros sempre vieram ocupando-me nesse exercitar precioso.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo diariamente, a qualquer momento, sem hora, sem lugar específico ou metas; geralmente gosto de escrever sonetos; nunca deixo por terminar; faço-o por inteiro, juntamente com a métrica (gosto muito dos sonetos decassílabos heroicos – obrigatoriamente em todos os seus quatorze versos tem 10 (dez) sílabas poéticas e as tônicas nas sílabas 6 (seis) e 10 (dez)).
Só escrevo…
Nem tenho tema favorito, escrevo sobre qualquer coisa.
Não me recordo desde então de ter passado um dia sem escrever nem que seja um poemeto, inclusive alguns textos para encenação/ performance/ peça teatral (nada muito grande, mas que leva realmente uma mensagem).
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrevendo poemas: é uma forma bem simples, a inspiração me chega… Escrevo.
Quando há algum mote é da mesma forma, já me vem um empilhado de ideias e vou distribuindo em seus lugares. Sempre tive uma facilidade enorme para escrita, creio que por eu ler bastante, isso seja o facilitador.
Recentemente criei uma “escola literária” se é que posso dizer assim; chamei-a de Ordonismo, registrada em cartório. É uma Escola Literária/ forma de escrita em que o poema é composto da seguinte forma:
É um soneto, (14 versos) onde a última palavra do verso rima com a primeira do verso seguinte, na maioria das vezes se mostrando decassílabo heroico (podendo ser também dodecassílabo). Nomeei essa escola literária como sendo Ordonismo. Usando o sufixo nominal (ismo) de origem grega, que exprime ideias de tendência literária; juntei-o ao meu sobrenome: Ordones (Ordones + ismo = Ordonismo).
Ordonismo
Tentei conceber algo interessante,
Tocante nas rimas, voz em finura,
Leitura agrado e do exato, distante,
Cantante aditamento com postura.
Escritura sem especial temática,
Tática com palavras e emoção,
Em função coloquial ou gramática,
Lunática, ou mesmo com pé no chão.
Versificação mais elaborada,
Entremeada nas quatorze linhas,
Alinha a última, à primeira sublinha.
A entrelinha por si já vem rimada,
Achada no imaginar do leitor,
E amor pode rimar com o que for.
ღRaquel Ordonesღ #Ordonismo
Uberlândia MG 06/11/16
Escrevendo sobre qualquer outro assunto:
Como já disse, não tenho dificuldade em escrever, é claro que esbarro num desenrolar de ideias, mas se já tenho as notas de que preciso, rapidamente teço o texto/artigo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Bom, geralmente escrevo sobre algo de que tenho noção; escrevo bobagens também… (risos) Impossível é falar de algo que não se tem conhecimento; aí entra a leitura… Essa sim, é um santo remédio para esse ‘destravamento”.
Não me sinto assim perante a escrita. Sei que existe, conheço pessoas que se estacam perante uma folha em branco.
Tenho algo vindo do meu interior que me traz um desenvolver sem tanta dificuldade.
E se tenho algum trabalho, por exemplo: se tenho que escrever uma orelha de um livro a pedido de alguém, estudo o livro, e não tem como errar… Assim como algum prefácio, é muito simples, o embrião do livro está em minhas mãos, vale sim a boa leitura, até a releitura e porque não reler novamente.
Para ser sincera, confio no que escrevo, não fico enchendo linguiça e nem “refalando”, sempre acho que um pequeno texto com conteúdo é muito mais do que páginas e páginas “amassando barro”.
Quanto à ansiedade, ela existe sim, essa espera é meio que uma tortura, é um fator incontrolável até; há pessoas que são muito mais ansiosas ainda. Mas sei lidar com a minha; coisas de mim.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
O corretor do Word é uma ferramenta e tanto; quando comecei a escrever poemas, não tinha essa facilidade, era na caneta mesmo e é claro que os erros eram muito mais evidentes até porque eu era muito menos experiente.
No caso dos meus poemas, no máximo duas leituras, não gosto muito de ficar lendo, para não ter que ficar alternado muito, senão o que eu escrevi acaba perdendo o sentido.
Não costumo mostrar meus escritos pra ninguém, algumas vezes até posto com errinhos, mas é claro que meus leitores dão logo o grito. Eu não me importo que me corrijam, até fico agradecida.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A minha relação com a tecnologia é bastante harmoniosa.
Estive presente nas duas gerações: antes da tecnologia e junto à tecnologia; na verdade crescemos juntas. Somos baste parceiras…
Escrevo de todas as formas, depende do recurso que tenho no momento.
Quando estou em casa, é sempre direto no computador.
Quando tenho que escrever algo e estou fora, numa sala de espera, por exemplo, papel e caneta ‘vão bem obrigado’ e até mesmo no celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As minhas ideias vêm de mim, sei lá! A minha mãe sempre dizia que eu tinha esse dom e desde bem pequena, metida a rimas e a trovinhas.
Como já disse, a leitura é fundamental para esse crescimento interno, o conhecimento ninguém nos tira. E é isso que busco fazer; ler é essencial para escrever. Já cheguei a ler 39 livros em um ano e é nessas viagens que me enrico a mente e entorno essa ciência em meus escritos.
Sempre que leio um livro, faço uma “resenha” ou opino a meu ver, busco escrever algo diferente dos pareceres já escritos, busco ser original.
Leio muito “digitalmente” adoro estar presente nas críticas construtivas pela internet, e quando estou em bate papo, saraus, ou qualquer evento do tipo, procuro muito mais ouvir do que falar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
De lá pra cá, eu não sou mais a mesma. (risos) Às vezes leio os meus primeiros poemas e digo: “Que primária!” Mas é assim que me vejo, na escola da vida poética, eu tinha mesmo que começar sendo primária e ainda hoje tenho que aprender muito, muito mesmo para ser mestra ou até doutora em letras… (pretensão)
Antes eu escrevia umas trovinhas mais ou menos rimadas, agora consigo metrificar um soneto, me sinto bem nessa escadaria poética, subindo degrau por degrau.
Hoje, participo de 14 antologias e tenho um livro solo publicado (Gotas de mim – 2017) e tenho tantos poemas arquivados; prontos para serem lidos…
Quanto a minha tese, até que fui bem! (risos)
É claro que hoje tenho muito mais experiência, e a escreveria com muito mais propriedade.
É muito gratificante você começar um trabalho dessa importância com uma palavra e no final ver tantas páginas escritas, tanta coisa pesquisada, tanta informação/conhecimento.
Talvez eu me dissesse: “Você tem que aprender muito, mocinha!”
Mas no geral fui bem, o meu trabalho de conclusão de curso, orgulho-me de dizer que o fiz sozinha, com o monitoramento dos professores/orientadores – escrevi sobre: Diretrizes para um plano de marketing, eu mesma revisei juntamente com os olhos atentos dos orientadores, montei minha apresentação e a parte mais dura realmente foi enfrentar a banca. Mas sobrevivi, palmas!!! Com uma nota de 97 pontos devido a alguns erros de português, que foram corrigidos, claro. Hoje, o meu trabalho de conclusão de curso mora na biblioteca da faculdade com nota máxima.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há tantos projetos em mente, tanta coisa linda a fazer. Sou apaixonada por teatro, contação de histórias em escolas/hospitais.
Tenho uma noção bem básica de teatro, com atuações e também como contadora de historias, acho lindo e transformador, tanto para mim, quanto para quem me assiste/ouve.
Gostaria muito de me engajar em algo assim, algo que fosse contínuo, dedicar uma parte do meu tempo para essa prática que leva alegria e brilho nos olhinhos esperançosos das crianças e, por que não, de adultos?
Tantos livros ainda por ler… Milhares, talvez…
Gostaria de ler o meu próximo livro. Quem sabe “meus próximos”?
Tenho material suficiente para mais alguns… Enfim…
Gostaria de publicar um livro de poemas didático que ‘versassem’ todas as matérias. Tenho alguns poemas prontos (projeto em Curitiba), nesse projeto foi-me pedido poemas com temas: escravidão, cartografia, influência cultural – comidas e ervas medicinais, primeiros cálculos na navegação, arte – dança e música – afro-brasileira, física quântica I – da concepção, física quântica II– da evolução, física quântica III – das descobertas, física quântica IV – panorama mundo microscópico, física quântica V- valor quantum e atualidade, dentre outros. Todos esse poemas foram revisados por professores qualificados para certificar da veracidade das informações e até das definições.
Gostaria também de publicar um livro infantil, na verdade é um projeto já “pré-pronto”. É uma pequena história, bem pueril mesmo, com uma mensagem um tanto relevante, ilustrado por mim.
Enfim, é sabido da dificuldade em publicar livro. Fica assim registrado aqui esse sonho realizável.