Raphael Sassaki é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em geral acordo feliz e ouço músicas. Deve ser o efeito do sol. Tenho uma rotina, mas ela muda bastante, e inclusive tem coisas que é melhor nem revelar, mas acho que faço o mesmo que todo mundo, tipo escovar os dentes e ler mensagens.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A melhor hora para escrever é quando você se apaixona/é tragado por um texto. E entra nesse estado selvagem em que o tempo e o espaço desaparecem. Fora esses momentos fico só anotando, que é uma espécie de treinar pra escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo rápido, mas intermitente, e fico meses sem escrever nada, sem lembrar como escrevi outras coisas. Isso estou falando de poesia. Sobre metas diárias de escrita: pratico outras formas de masoquismo. Estas são até prazerosas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Se for prosa, primeiro imagino uma estrutura, depois vou colocando as coisas dentro. No caso de poemas, são melodias meio indefinidas que vão virando frases, e elas podem ser, quem sabe, misteriosamente bonitas (excruciantes) pra outras pessoas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Em poesia uma coisa que funciona é escolher um interlocutor e mandar uma grande carta pra ele. É o método Frank O’Hara de cartas de amor. Ou então pegar versos que façam sentido e ir juntando, bem artificialmente. Na verdade, definir qualquer critério lírico e ir atrás dele em outros textos sempre funciona e às vezes revela mais que a rádio interna da nossa cabeça. É o que chamam de ready-made. Agora, tem poemas que chegam prontos, parece que caíram do céu, ou subiram do inferno. Esses são os melhores.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Edito até eles estarem OK sob os critérios secretos de um demônio pessoal. Mas como publico tudo em PDF, sempre que dá um acesso de vergonha e autocrítica eu vou lá e mudo. Fora isso, minha religião não permite mostrar o texto antes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Anoto frases à mão, mas escrevo no computador, às vezes direto no InDesign, que é o programa de fazer livros, e no HTML, que é a linguagem da internet. Mas a própria caixa de mensagem dos chats te força a escrever poemas o dia inteiro: linha cortada, economia expressiva, stickers, áudios etc. Não sei onde isso vai levar, acho que já deve ter levado.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
A maior parte não veio de mim, foi alguém que me contou. Também li alguns livros e acho que as palavras ficaram se misturando sozinhas. Muitas coisas vêm do amor, de ver ele nascer e ser partido ao meio. Talvez esse lance de procurar a beleza seja exatamente ver aquilo que está além delas (das ideias).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não teria nada pra dizer, até acho que poesia é algo que a gente faz melhor quando é jovem. O que mudou foi a sagacidade. E o perigo, ao redor. Inclusive na arte.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Queria escrever um livro de fofocas/ensaio cultural chamado “A Era Romântica”, um romance veloz que girasse como uma bicicleta chamado “Deputados Sem Honra”, e uma história que se passa na televisão, chamada “Reality Show”. São livros que não existem e que eu gostaria de ler, ou pelo menos, de apertar um botão e fazer surgir.