Rafael B. Porto é professor adjunto no Departamento de Administração da Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina é como a de muitos outros: acordo, tomo café-da-manhã, vou para o computador, respondo e-mails e, dependendo das atividades do dia (ou administrativas ou de ensino ou como pesquisador), me organizo para o dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho uma hora do dia melhor do que outra. Às vezes trabalho durante a manhã, às vezes à tarde e às vezes à noite. Depende fundamentalmente do conjunto de atividades do dia e se sobra algum tempo para dedicar à escrita de uma obra, artigo científico ou capítulo de livro, por exemplo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo geralmente em períodos concentrados (dois a catorze dias), mas misturados com atividades rotineiras de casa, família, atividades de ensino e administrativas, se for o caso. Possuo geralmente metas no caso de artigos científicos. Alguns deles possuem deadline de submissão, então ele precisa estar pronto para submissão um dia antes desse prazo, pelo menos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não julgo ser difícil começar o trabalho de escrita científica. Geralmente pesquisas são bem objetivas e, uma vez viabilizadas e executadas, a escrita é um encaminhamento lógico do relato. O que pode ser difícil é começar uma pesquisa, mas para isso sou coordenador de um grupo de pesquisa – Experimenta – com discussões das propostas e andamento das pesquisas, o que ajuda. O que é trabalhoso às vezes é a adaptação da linguagem para submissão à revista científica específica. Cada uma tem suas regras.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação pode ocorrer devido à falta de conciliação de outras atividades pessoais com atividades de pesquisa. Mas uma vez que se encontra esse tempo, a procrastinação reduz consideravelmente. O medo de não conseguir corresponder às expectativas pode ocorrer no caso de rejeição da avaliação do artigo por parte da avaliação por pares às cegas que as revistas possuem. Mas isso faz parte do processo de publicação e a rejeição deve ser encarada como um motivador para melhoria.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Algumas (dezenas de) revisões são necessárias até a chegada do momento da submissão de um trabalho científico para um congresso ou artigo científico. Mesmo antes de o artigo ser aprovado ainda ocorrem outras revisões. Arrisco dizer mais de vinte revisões antes de publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje em dia tudo no computador. Deletar e reescrever é mais rápido por via eletrônica.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm de problemas práticos da área de pesquisa de administração de empresas e marketing. Existem muitas práticas do mercado que geram boas ideias para pesquisa. Há também o contrário, muitas pesquisas feitas que geram encaminhamento para futuras pesquisas e que, por sua vez, demonstram caminhos de solução práticos para o mercado.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
O que muda no processo de escrita ao longo dos anos é o amadurecimento metodológico e de que sempre precisa pensar no público leitor. Quem for fazer pesquisa, sabe o que está fazendo para testar corretamente? Quem for ler, vai entender? Só a experiência com a pesquisa permite elaborar projetos mais robustos e também só a experiência com a escrita científica permite deixar a linguagem mais fluida ao leitor.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Pretendo no futuro escrever artigos em journals internacionais de impacto dentro da área de business e lançar um livro sobre o conjunto de pesquisas que tenho desenvolvido.