Priscila Pereira é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como sou mãe de uma menininha de 3 anos, esposa e dona de casa, começo meu dia com uma xícara de café com leite, que nunca pode faltar, e com os cuidados com minha filha e minha casa. Tenho muita dificuldade para funcionar de manhã, sempre fui assim, demoro demais para despertar e escrever nesse período está fora de questão.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo mais, ou melhor, só quando minha filha está dormindo. Tenho que aproveitar os raros momentos de paz e sossego. Como tenho pouco tempo útil para escrever, tento imaginar ao máximo os detalhes da estória que estou criando. Isso às vezes ajuda muito, mas em outras vezes atrapalha, já que por alguma razão não consigo colocar o que imaginei na estória do modo como imaginei, gerando frustração e muitas vezes o abandono dessas ideias. Não é bem um ritual, mas gosto de ouvir música clássica enquanto escrevo, Beethoven, principalmente a 5ª Sinfonia. Me inspira…
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Queria muito chegar a um nível de escrita diária, mas está longe da minha realidade no momento. Eu praticamente só escrevo se estiver sob forte pressão. Então eu participo de desafios, postagens programadas do site As Contistas, escrevo para chamadas de antologias e concursos. Não consigo escrever sem um propósito, então vivo procurando um motivo. Estou lutando para tornar um hábito a escrita calma e diária, criação de textos sem quaisquer pretextos ou projetos, pelo simples amor à escrita, mas confesso que minha índole torna essa tarefa dificílima.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente eu procuro uma ideia geral e ainda bem abstrata e lapido ela na hora, aos poucos já no primeiro rascunho do texto. Se o texto pedir alguma pesquisa eu tento me esclarecer bastante sobre o tema, como por exemplo, eu gosto de escrever sobre pessoas com doenças mentais, então pesquiso algumas coisas sobre o assunto, mas não uso a pesquisa em todos os textos, já que a maioria é simples, sobre o cotidiano ou o universo fantástico, que gosto muito. Não costumo usar notas nem pedaços de textos fragmentados, tenho que escrever de forma linear, senão me perco. Acho que não é uma boa forma de escrever, mas é a única maneira que consigo, ainda, (estou em fase de mudanças), mas produzo praticamente o texto todo nos momentos que me proponho a escrever, imaginando e digitando ao mesmo tempo. Ainda não consigo outros meios, como pensar em frases de efeito ou tiradas geniais, ao longo do dia e guardar para quando puder escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Bem, como já disse, a procrastinação só me deixa escrever nos finais de prazos, quando estou desesperada para conseguir, então flui que é uma maravilha… (risos). Bem, quando me proponho a escrever, vou até o fim, mesmo sem inspiração, muitas das vezes me forçando mesmo, não recomendo isso, já que a qualidade fica muito prejudicada. Já o medo de não corresponder às expectativas, esse eu já perdi há muito tempo, já que sei perfeitamente que nunca vou conseguir agradar a maioria das pessoas, então não escrevo para elas e sim para mim mesma. Como nunca trabalhei com grandes projetos (escrevo contos e poemas, só) não sei como seria mas imagino que ainda falta muito para mim conseguir iniciar um desses projetos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Confesso que não tenho muita paciência para revisões… mas depois do texto pronto, deixo descansar algum tempo, não muito já que sempre deixo para a última hora, mas depois desse tempo, leio com a máxima atenção e depois em voz alta, sempre ajuda a destacar frases que tenham saído ruins ou com uma dificuldade de entendimento. No geral não fico mudando as coisas, corrijo o que está errado, melhoro o que vejo que posso melhorar, mas não sou do tipo de pessoa que nunca está satisfeita. Tenho uma amiga que lê tudo o que escrevo, sempre me dá dicas de como melhorar e puxa minha orelha quanto à simplicidade e falta de profundidade dos meus contos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não consigo escrever à mão, não sei, não escrevo rápido o suficiente e as ideias se perdem, então só no computador. Escrevo direto no drive da Google e onde eu estiver, quando sobra um tempo e vem a inspiração, posso escrever um pouquinho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm da observação de tudo. Observo pessoas, gestos, características, ouço conversas, imagino quem são, de onde vem, imagino um passado, um futuro. Observo paisagens e sinto tudo que está ao meu redor, qualquer coisa pode ser o gancho de um texto. A imaginação é uma arma poderosa para aqueles que querem se aventurar na escrita, então exercitá-la é um ótimo meio de se manter criativo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não escrevo há muito tempo, só alguns anos, e já vejo grandes mudanças, um progresso lento, mas existente. Noto principalmente uma maior profundidade e qualidade dos contos, um empenho maior na construção dos personagens e na elaboração dos enredos. Antes eu escrevia só contos muito curtos, quase microcontos, hoje já consigo escrever um de 2500 palavras sem grandes dificuldades. Se pudesse voltar àquela época, diria pra mim mesma para focar na qualidade, profundidade e no despertar das emoções no leitor. Feito isso, só a constante prática pode levar a uma grande melhora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria muito de escrever um romance, mas está fora de cogitação por enquanto, não sobra muita disposição nem forças físicas e mentais para escrever um grande projeto enquanto se cria uma criança ainda tão pequena, mas logo ela cresce. Enquanto isso procuro mudar meus hábitos procrastinadores de escrita. Queria ler e possivelmente escreverei sobre o tema, quando finalmente começar um romance, um livro cristão de ficção espiritual.