Pedro Dziedzinski é poeta, autor de Frêmito-genitália (Le Chien, 2017).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo em horários bem diversos, dependendo muito de como vai a cabeça, mas nos últimos meses tenho levantado da cama já na parte da tarde. Me esforço bastante, levo tempo pra engatilhar. Não tenho emprego fixo há anos e quase sempre trabalhei a noite. Não sei direito como funcionam as manhãs.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto bastante de escrever no fim da tarde. Acho que acender um cigarro é a única coisa que se repete.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sempre que tento impor alguma meta pra minha poesia acabo frustrado. Me irrito, não consigo cumprir, tudo fica muito diferente do que imaginava. Não acredito em trabalho artístico sem um mínimo de prazer. Escrevo quando sinto vontade e estou totalmente liberado para levantar da cadeira caso essa vontade desapareça.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Costumo dar bastante corda pras minhas ideias antes de riscar qualquer coisa. Meus poemas começam longe do computador e de uma hora pra outra, quase que em tom de curiosidade. Geralmente é uma palavra que me chama a atenção e aí fico virando-a de um lado pro outro na cabeça, fazendo construções. Mais tarde, quero dizer algo e sinto que vale a pena a tentativa de num primeiro momento utilizar a figura. Se as coisas namoram, me deixo levar. A parte prática, de digitação, não costuma levar mais do que alguns minutos. Gostaria de ter mais paciência.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não sinto que tenha compromisso algum com a escrita. A literatura faz muito mais parte da minha vida através dos amigos e de minhas leituras do que quando decido escrever. Escrevo somente quando me sinto contente ou aliviado por estar escrevendo. Caso contrário, prefiro qualquer outra coisa.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho o mau hábito de escrever os poemas diretamente na caixa de posts do facebook. É muito raro eu revisar qualquer coisa que não seja para publicação ou concurso. Quando acumulo um número maior de poemas e penso em transformá-los num conjunto envio aos amigos próximos. Também gosto de recitar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo quase sempre no computador pois estou quase sempre no computador. É como faço passar meu tempo. Sou um pouco refém da tecnologia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Gosto de coisas muito diferentes umas das outras e gasto muito tempo com elas, acho que minha poesia acontece por conta disso. É uma consequência. Dos hábitos longevos, ainda uso muito videogame e RPG. Porto Alegre, Barra do Ribeiro. A tranquilidade do lugar em que fui criado. Para me manter criativo, além do prazer obrigatório, evito torcer o nariz, me esquivar das coisas e artes que se apresentam. A arte, sempre orgânica.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que passei a ter mais segurança. Independente da qualidade, faço sempre os poemas em que acredito. Deixei te ter medo deles. Diria ao Pedro do passado que não tivesse medo de poesia e muito menos dos poetas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda quero tentar a prosa. Gostaria de ser para sempre surpreendido. Ler coisas que me enlouquecem. É a melhor parte disso tudo.