Pedro Blanco é falhador de poesia, pescador de peixe fora d’água e usuário de Rita Lee.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
começo a 323 por hora. minha rotina é ir pro trabalho onde 17 erês me esperam com uma energia bem maior que a minha. ainda bem.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
não tenho nem hora muito menos algum ritual, a poesia tá em todo canto e em todo momento. o que faço, e não é propositalmente, é deixar a escuta atenta e criativa e pensar sempre brincando.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
escrevo praticamente todo dia, sem hora exata, mas não é uma meta. não tenho dúvidas que forçar a escrita me ajuda, mas tudo depende do momento. mesmo com o dia cheio sempre sobra um ou vários momentos, não necessariamente de escrita, mas de imaginar um verso ou uma frase que seja. também depende do que tô afim, ontem mesmo (4/12/18) passei meus momentos “livres” (tipo 40 min de almoço) fazendo escultura e taquei um foda-se pra poesia tradicional, guardei tudo pro çarau do burro (#procuresaber). o negócio é “errar sempre, errar melhor” e chutar o tiro de meta física independente do jeito.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
não tenho nenhum processo, específico , tô sempre me pondo em desafio, provocações, jogos, mas como disse acho poesia em tudo, vendo uma exposição, lendo livros, observando o que aquela nuvem parece, acariciando um cão de rua, tomando todas com os amigos e etc. tem coisa que sai na hora ou eu tô mentindo também, porque na maioria das vezes tá tudo acumulado, aí junto com coisa velha que faz mais sentido do que fazia ou que começa a fazer… melhor parar, porque é uma bagunça da porra.
ah! tem um provocador comum, sempre que tô criando penso “como fica isso falado?”, pois gosto muito da chamada “spoken word”.
na questão das notas é tipo junto uma na outra, mexo remexo, faço a dança da manivela. não sei se é difícil ou fácil, depende da poesia, se já vomitei tudo… mas caraca, tu só faz pergunta boa e difícil. não sei nem se me conheço mesmo.
por ultimo…bom, sou fundador e único membro do “movimento Barroso”: cê pode considerar que tudo o que falo é meio Manoel de Barros ou é tudo uma completa bosta mesmo. é o único movimento que boto fé.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
poeta é seu próprio dono, seja ele um bom ou um mau dono. se começa a virar cobrança e mais um motivo pra ansiedade, estresse e essas coisas que já não falta meio pra nos fornecer, será que ainda vale a pena, mesmo se tratando de poesia?
procrastinar é foda, como bom taurino tenho o meu tempo, mas o resto das pessoas tem um cuco que canta cravado. minha autosabotagem é nesses momentos finais, de ter que enviar os poemas pro meu editor, ou pro mano que me convida pra publicar em página, site… tô devendo coisa pra muita gente, só não enrolei com essa entrevista porque tá me provocando legal.
em relação ao medo já lidei pior. quem não tem medo é idiota e robô. já fiquei e ainda fico muito magoado por não ser chamado pra trampos que sonho muito, e tenho medo, pois sei que muito provável não serei chamado. ou puto, porque detesto rótulo e escuto direto de mó galera que fala que o que faço é “stand up poetry” (sazora…) e aí tem um trampo chamado “stand up poetry” e poeta mais triste que o marylin manson em fernando de noronha é convidade e eu não. tenho a porra dum rótulo sem validade, penso. mas é isso, sou dono das minhas expectativas, eu que tenho que esperar de mim, então é manter a paciência, a humildade e continuar, acreditar no seu trampo e ser feliz com ele, tem que ser chamego na alma e não dor de cabeça.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
nossa! reviso até hoje, não sei nem se sei ou se irei saber algum dia se eles tão prontos. mas talvez quando já está no livro e publicado, com exceção d’eu ter ofendido alguém (de esquerda) sem perceber. acho que o livro de um poeta vira documento, rg daquelas fotos beleza inquestionável das crianças, adolescente mutante e adulto aquela luz me fudeu/tô mais gordo que nunca/cipá minha melhor foto. é nossa história e se alguém por um milagre ou falta de parafuso ler tua obra toda te conhecerá melhor, acredito, e analizar sua evolução e o que mais gosta em você.
quase sempre mostro meus poemas pro Daniel Minchoni, que além de amigão é meu mestre linguiça e editor. Pro Arthur Moura Campos que é um artista multimídia que sou muito fã e tem um pensamento bem aberto e sempre traz retornos interessantíssimos. atualmente mostrei inéditos pro Marcus Cardoso, que além de muito inteligente, tem referências muito semelhantes às minhas e virou um filtro pra ver se aquilo que fabríco tá batendo como eu quero. mas é muito bom mostrar ao vivo em saraus e pesquisar a reação das pessoas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
péssima. uso um windows a.c , sei nem tirar aquele grifado quem vem às vezes quando jogo do celular pro pc. não tenho ordem, o que tiver mais ao alcance ou conforme meu estado de lucidez, tem poema meu pra ser usado, que metade tá escrita numa caixa de fósforo. eu gravo também no celular, mas o final do final, pelo menos pra publicar em livros, é feito no meu pc movido a lenha.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
talvez já tenha dito os principais na pergunta 4. é aquilo, viver, viver e experimentar, se provocar, jogar com a arte imitando a vida e vice verso, entender que pra arte não há certo e errado e se divertir produzindo. acho muito importante escutar as pessoas, frequento muitas oficinas (públicas), grupos de escrita, pra absorver novos exercícios, referências e ideias, mas isso brincando com as crianças ou no buteco do seu souza também tem.
ps: y otras cocitas +
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
a frequência e o desprendimento.
diria: não tente ser aquilo que não é e divirta-se!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
todos eu comecei e/ou terminei:
tenho um roteiro pr’uma hq do mutano (personagem da DC que se transforma em qualquer animal) -a fauna é muito inspiradora pra mim- e queria ver ele publicado mesmo que na pirataria;
meu segundo livro e meu terceiro;
minhas poesias musicadas e o projeto poético musical que tenho com Arthur e Helimar.
os livros são: os próximos da Carla Diacov.
e claro, de amigs que estão pra estrear nesse mundo.
se você leu até aqui, obrigado.