Paulo Verano é doutor em Ciência da Informação pela ECA-USP, onde leciona no curso de Editoração.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
A parte da manhã é dedicada a coisas práticas, de organização da vida pessoal. Também dou aula pela manhã na Universidade de São Paulo, de duas a três vezes por semana.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho principalmente como editor e professor; a escrita acontece de modo pontual, sem uma rotina prevista. Trabalho melhor durante o dia. Na escrita, se está fluindo, não tem horário; às vezes invado a madrugada. Não tenho ritual para escrever, exatamente. Mas normalmente penso muito sobre o que vou escrever, construo mentalmente e depois escrevo “numa sentada”, com velocidade e sempre com música. Depois, volto ao que escrevi e trabalho meu texto como um editor, que é o que sou na verdade. Minha tese de doutorado, por exemplo, eu escrevi desse modo. Parece estranho, mas adoro escrever ouvindo Ratos de Porão, uma banda punk, no fone de ouvido. Dá uma certa concentração, vai entender.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho métrica, nem padrão. Normalmente, é como comentei. A escrita acontece mentalmente e depois vai para o word num jorro que depois edito.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No caso de textos acadêmicos, primeiro leio, ficho, anoto no próprio livro. Depois “imagino” sobre o que vou escrever e como, daí sento e escrevo. Posteriormente, volto ao texto e incluo eventuais citações ou reflexões novas a partir da bibliografia. No caso de texto ficcional, é um processo parecido, vem a ideia, escrevo mentalmente e depois vou ao computador. Os dois livros para crianças que escrevi foram em coautoria, e com processos diferentes. O livro Adoro listas! (Nova Fronteira, 2014) foi criado coletivamente pela Daniela Carbognin, pelo José Pizani, pelo Marcello Araujo e por mim, e depois o Marcello ilustrou. Mas o texto tem oito mãos. Já Memórias de uma girafa (Edições Barbatana, 2016) partiu de uma ideia de minha filha, Clarice Ferreira Verano, e depois escrevemos juntos. Poster iormente, o Kevelyn Oliveira ilustrou.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Coloco de lado e volto depois. Se não tenho mais prazo, sento e escrevo, mas sempre com esse processo mental antes. Na edição de textos mais longos, também recorro à música para não me dispersar, normalmente música barulhenta. Tem um livro de Caetano Veloso, O mundo não é chato, que sempre gosto de reler quando preciso escrever algum artigo ou texto que pode ser ensaístico. Acho sua escrita inspiradora.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Normalmente, eu reinicio a escrita relendo do início e alterando, revisando, trocando palavras, editando. Daí, em certo momento chego aonde parei e prossigo. E assim por diante, como se fossem camadas. Acaba sendo sempre um misto de redação, edição e revisão. Em algum momento sinto que está pronto. Normalmente não mostro até que envie o texto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador. Eventualmente, faço notas num caderno. Tenho sempre folhas de papel perto do teclado, onde fico rabiscando ou anotando palavras-chaves.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Quase sempre são reflexões a partir de questões contemporâneas, textos mais ensaísticos ou dissertativos, mesmo quando ficcionais.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meu trabalho principal é a leitura e a edição de textos. Escrevo sem tanta constância. Mas acho que meus textos iniciais eram mais diretos; os atuais são mais sinuosos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns projetos em mente, uns mais novos e outros bem antigos. Um guia sobre a cidade de São Paulo, bem subjetivo, é uma ideia sobre a qual me debruço há uns 20 anos. Tenho outras duas ideias que venho pensando, mas ainda na fase mental. São dois livros para crianças. Mas tenho tempos longos e não me importo com a gaveta. Tenho um livro que escrevi durante quatro anos e deve fazer uns oito anos que não leio de novo, nunca o publiquei.