Paulo Henriques Britto é tradutor, escritor e professor do Departamento de Letras da PUC-Rio.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina é de professor e de tradutor, que são os trabalhos profissionais que faço. Não tenho rotina de escrita. Como pesquisador, escrevo quando me convidam para um evento ou para alguma publicação, ou quando um tema que estou desenvolvendo num curso que estou lecionando no momento pede um aprofundamento maior.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Costumo escrever mais à noite e nos fins de semana, que é quando meu trabalho na universidade me dá folga. Não tenho nenhum ritual.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em períodos concentrados. No caso da poesia, passo meses sem produzir nada, e às vezes escrevo vários poemas em um mês. Na ficção, sou bissexto, e normalmente levo muito tempo para terminar um texto. Há exceções — o conto mais longo que já escrevi saiu em poucas semanas — mas o mais normal é o caso de outros cuja escrita durou mais de trinta anos, entre o primeiro esboço e a versão publicada. Quanto a textos acadêmicos, sempre produzo em períodos concentrados. Não tenho nenhuma meta diária.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meus artigos acadêmicos partem às vezes de notas de aula, às vezes da leitura de autores que estou estudando. Escrevo uma primeira versão em uma ou duas sessões de escrita, depois faço muitas e muitas revisões. Durante o processo, releio os textos da bibliografia repetidamente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Minha escrita acadêmica é muito disciplinada: se me dão um prazo, eu invariavelmente o cumpro. Nunca tenho travas nesse tipo de texto. Com ficção é o contrário; tenho muita dificuldade em concluir uma narrativa. Com a poesia, já me acostumei a longos períodos de esterilidade, especialmente logo depois da publicação de um livro; no começo, chegava a pensar que nunca mais ia conseguir escrever nada, mas agora sei que é uma questão de tempo, apenas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Dezenas de vezes. Os textos acadêmicos, mostro a colegas da área; os poemas, a dois ou três leitores de praxe; os contos eram sempre lidos por um grande amigo, o contista Antonio Carlos Viana, mas desde que ele morreu é com o leitor de editora que mais dialogo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje em dia escrevo absolutamente tudo no computador. Não uso mais papel para nada. Até meus cadernos de rascunho de poesia, que eu mantinha desde a adolescência, foram abolidos há uns dois ou três anos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Os textos acadêmicos partem de cursos que estou dando, quase sempre, ou de um texto teórico com o qual tenho uma discordância produtiva. Os poemas e contos podem partir de qualquer coisa. Não tenho nenhum hábito associado à criatividade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não houve nenhuma mudança profunda. A tendência a rever obsessivamente, que sempre existiu, só faz aumentar com os anos. Mas nunca parei para pensar no que eu faria se pudesse voltar atrás no tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um romance, e também de reunir num livro as conclusões a que cheguei nos meus estudos de forma poética, utilizando os diversos artigos que venho publicando nas últimas décadas. Quanto à segunda pergunta, creio que não entendi bem. Como vou pensar em livros inexistentes se há centenas de livros existente que eu gostaria de ler, para os quais não consigo achar tempo?