Paulo Ferrareze Filho é doutor em Filosofia do Direito (UFSC), professor de Psicologia Jurídica e autor do Manual Politicamente Incorreto do Direito no Brasil.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O primeiro é abrir os olhos. Depois vem o momento de mijar. Depois de checar o celular. Às vezes o celular vem antes. Às vezes vou mijar de olhos ainda fechados. Eu confesso que tenho uma certa desconfiança tanto das manhãs quanto das rotinas. Por isso me é difícil seguir respondendo essa pergunta.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho uma melhor hora, mas sem dúvida as horas em que a coisa acontece são horas noturnas. O ritual é simples e tradicional: beber, fumar e escrever. Ir colocando tudo na ata, como um escrevente. No outro dia, depois da ressaca, maquiar o Frankstein que é a ata in natura.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quem escreve o que pensa nunca para de escrever. Mesmo que esteja longe de uma caneta ou de um teclado. Não acredito que alguém com meta diária pra escrever possa escrever algo que preste.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Pra mim funciona como uma necessidade fisiológica. Como beber água ou tomar banho. Não sei se me movo disso (a pesquisa) para aquilo (a escrita). Faço ao mesmo tempo. Escrevo notas nos livros enquanto os leio. Ler é ir escrevendo. E escrever é ir lendo. Hoje em dia, com o acesso facilitado aos livros, o número de livros bons de conversar é maior que o número de pessoas. Escrever é, no fundo, uma conversa elaborada, com mais cuidado, com mais delicadeza.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Travar é uma autoimposição de censura. Censurar a escrita é o princípio de um texto desinteressante. Travar significa ter claro onde se quer chegar. E escrever é nunca saber onde a coisa vai dar. Se há trava, não há nada curativo a ser escrito. Vulcão inativo. Escrever acontece quando as ideias não resistem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muito. Uma vida dedicada é indissociável de uma incessante revisão de si mesmo. Revisar textos é essencial porque é sempre revisar aquilo que fomos. Eu, que sou um tipo de tímido estranho, raramente mostro o que escrevo antes de publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Notas à mão ou computador. Textos no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
“De onde vêm suas ideias?” é como perguntar sobre a origem do Universo. Uma pergunta de resposta impossível. Para manter a criatividade em curso, meus hábitos são: comer carne vermelha, beber, fumar e escutar violão espanhol.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sei o que mudou. Só sei que mudou. Se eu pudesse diria: vai jovem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto de educação hedonista. Os livros do futuro.