Paulo Caldas é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não. Qualquer dia ou hora. Escrevo a partir da composição das cenas, como num filme. No atual momento, por exemplo, produzo o romance Musa Tatuada que comecei pela última cena.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não exatamente uma hora, mas um local. Aqui em Aldeia, a 25 quilômetros do centro, os ventos são favoráveis. Na Biblioteca Pública, no Parque 13 de Maio, no centro do Recife, o ambiente é cumplice, parceiro das ideias.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro concluir a cena e escolher no roteiro qual devo começar. Isso acontece sem amarração com o tempo e sim com a ligação de uma cena com a sequência.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Apenas começo pelo cenário onde as coisas vão acontecer. Em seguida posso descrever o traje ou perfil físico do personagem para caracterizá-lo melhor, depois provoco diálogos (aberto ou fechado) conforme a situação requeira.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Conduzo uma oficina literária. Lá, recebo o incentivo da crítica honesta, das opiniões abalizadas, pertinentes.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Cena por cena. Por exemplo, criei um motorista de táxi, Cristóvão (são Cristóvão é o padroeiro deles) na cena final ele é magro e alto. Noutra cena, fiz ele louro e tipo atlético. As revisões servem para isto, descobrir as falhas. De outra vez criei um evangélico e não percebi que mais adiante ele bebia cerveja…
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
De qualquer jeito. Existe um aplicativo no qual falamos e ele transforma a voz em texto. Do celular mando pro e-mail e baixo para o arquivo que desejo. Quando não, rabisco em qualquer papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
O maior acervo de ideias são os desencontros entre os humanos, as contradições, a fragmentação do caráter das pessoas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Tenho dois tempos de escrita: antes e depois uma oficina de criação. A partir de 2.000, estudei por dez anos com Raimundo Carrero. A partir de 2.000, com o pessoal remanescente daquele grupo, criamos uma oficina noutros moldes e estamos juntos há oito anos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O romance que escrevo atualmente é o foco da minha literatura. Se depois virá outro, não sei.
Pretendo levar a oficina para um espaço em Boa Viagem, quero atender os participantes da zona sul que estudam comigo pela internet.
Quanto ao que ainda não li, a lista é grande, especialmente dos clássicos. Quando me apeguei a leitura comecei com os pernambucanos: Gilvan Lemos, Carrero, Maurício Melo Jr, Maximiano Campos, Luiz Berto, Hermilo Borba Filho… Só de uns 15 anos pra cá descobri Flaubert, Nabokov e estou nesta trilha.