Paulo Briguet é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo às 5h45, rezo o terço, levo o cachorro para passear, tomo café, sento-me diante do computador e começo o trabalhar. Quase sempre, tomei algumas notas no dia anterior e já tenho uma ideia do que vou escrever. Mas acontece também de acordar com uma ideia completamente nova, seja porque sonhei (gosto de dormir com problemas literários; minha esposa não tem ciúme), seja pela leitura de alguma notícia ou mensagem. Às vezes, a ideia nova surge quando estou caminhando com o Cisco (meu cachorro).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho escolha. Preciso trabalhar de manhã, porque gosto de estar com a coluna pronta até meio-dia. São 2.900 caracteres; esse número me persegue. Colunista diário não é gente normal.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como já disse, escrevo todos os dias. De manhã, a coluna. À tarde, outras coisas. Mas também acordo para escrever à noite. Estou nessa vida de colunista há três anos e meio; já escrevi mais de mil crônicas e artigos no período. Antes, eu publicava três crônicas por semana. Nos últimos dois anos, publiquei um livro (“Coração de Mãe”) e estou escrevendo outro (“O Homem do Chapéu”). Mas esses livros são biografias encomendadas. Minha meta é escrever um romance e uma peça de teatro nos próximos meses.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como já expliquei, não posso ter o luxo da dificuldade. Minha obrigação é escrever todos os dias, sem desculpas. Minha vida é um eterno plantão.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não lido, eu luto. Se derroto ou sou derrotado, os leitores é que podem julgar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Na coluna diária, só duas pessoas leem o texto antes da publicação: eu e minha editora. Quando o tema é sensível, mostro o texto a alguns amigos de confiança (Domingos Pellegrini, Bernardo Pires Küster, Silvio Grimaldo, Carlos Nadalim, Marco Antônio Fabiani) ou aos diretores do jornal, que também são amigos confiáveis.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quando comecei, há 30 anos, escrevia tudo à mão, com caneta esferográfica, em cadernos pautados. Guardo esses originais até hoje. Depois, passava tudo para a máquina de escrever. Durante alguns anos, usei uma máquina que não tinha letra a; eu precisava preencher todos as letras “a” manualmente depois. Talvez isso tenha algum simbolismo. Um dia descobri o computador, nunca mais parei de usá-lo. Meus primeiros ensaios foram escritos em um computador XP, com letras verdes e tela preta, uma coisa pavorosa. Eu imprimia os textos em formulário contínuo. A impressora matricial fazia um barulho dos infernos, parecia que ia explodir a qualquer momento. No jornal, o sistema era DOS. Dávamos um comando — acho que era F10 — para medir o tamanho dos textos, o que sempre vinha acompanhado de um apito na máquina. Sonho com esse apito até hoje. No entanto, jamais abandonei o caderninho de anotações. De uns anos para cá, uso o WhatsApp de minha esposa como bloco de anotações virtual. Se não consigo escrever, “anoto” as ideias com mensagens de áudio. É um negócio maluco.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Meu segredo é prestar atenção em tudo. Nunca fui um cara muito inteligente, então preciso compensar com esforço. É muito comum eu estar conversando com alguém e pedir licença: “Posso anotar isso que você falou?” Lendo, conversando, assistindo a seriados e até dormindo me ligo nos detalhes aparentemente irrelevantes. Sou um mendigo de crônicas, contos, personagens. Além disso, sou completamente viciado em trocadilhos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria para ser mais disciplinado e parar de vagabundagem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Como eu disse, um romance e uma peça de teatro. Espero escrevê-los antes de fazer 50 anos. Estou chegando aos 49. Mas não posso falar sobre eles; com licença, a conversa está muito boa, mas vou escrever.