Patricia Gonçalves Tenório é escritora e doutora em Escrita Criativa (PUCRS).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo muito cedo, medito e já começo a escrever. Sonhos, poemas, reflexões ou mesmo pequenos contos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou diurna. O melhor horário para mim é de manhã cedinho. Mas não me prendo muito a isso. Quando dá vontade escrevo. Deixo fluir. Depois, é claro, sou rigorosa na revisão. Fico lapidando, e lapidando, até sentir que chegou no ponto de ser publicado ou compartilhado com alguém.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
É muito variável. Há dias em que leio mais, não escrevo nada. Então começo a ficar angustiada para escrever, e escrevo. Existem os prazos nas universidades, e também editoriais, cursos ou palestras com data marcada. No intervalo, sou livre em relação ao tempo e à quantidade de escrita.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Prefiro a pesquisa junto à escrita. Não separo muito as fases. Mas existe, sim, uma preparação. Como disse na resposta da pergunta 3, quando acumulo leitura suficiente, a necessidade da escrita é urgente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu me forço a escrever, mesmo quando não consigo escrever nada. Se não escrevo, leio. Não me permito ficar parada. É como a água do lago: se parar, apodrece. Sinto-me mais próxima à água do rio, sempre correndo ao encontro do mar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu também me forço a revisar. O próprio processo de publicação de livros nos pede essas inúmeras revisões. E, sim, mostro para ao menos duas amigas escritoras e poetisas que confio muito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Também varia. Os poemas escrevo a maioria em diários que já contam noventa e oito (desde 2006 escrevo diários). Mas depois da universidade, por causa dos prazos e do volume de escrita, aprendi a escrever direto no computador. Inclusive a minha tese trata dessa quarta parede que é a tela de um laptop, por exemplo. Ela nos protege de nós mesmos e nos libera a derramar mais os nossos traumas, o inconsciente.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Penso que noites bem dormidas, alimentação saudável e atividade física ajudam muito, oxigenam o cérebro e me dão ideias para escrever. Sempre fazer algo diferente também ajuda, se propor desafios, experimentar novos caminhos. A novidade é mola propulsora para a criação, além de não envelhecermos. Corpo são, mente sã; ideias novas, mente jovem.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Sou um pouco mais paciente hoje – preciso ainda aprender a ser mais. Porém não mudaria a minha vida literária em uma vírgula: era necessário todo esse “longo, perigoso, tortuoso caminho” (de As joaninhas não mentem, meu segundo livro) para eu chegar aqui.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Como estou com cinco livros no prelo a serem lançados em novembro, 2019 [12 horas (a minha tese), 13 (contos), 14 (poemas), 15 (ensaios) e 7 por 11 (seleção dos livros anteriormente publicados)], não tenho nada em mente no momento. Sinto-me como Clarice (Lispector), esvaziada. Quem sabe na próxima entrevista?