Patrícia Brito é escritora, editora do projeto Leituras Plus.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim. A meditação e o yoga são meus primeiros companheiros matinais. É o meu primeiro momento só comigo mesma. Quando chega a noite faço os dois novamente, só que agora em turma. Essa é uma hora importante do dia, a reflexão, as orações, o enviar boas energias e luz às pessoas que amo é algo que realmente me faz muito bem.
Acordo sempre antes do compromisso marcado para ter toda essa calmaria no começar do dia. Logo depois leio livros não ficcionais, pois é quando tenho a cabeça mais fresca. E, antes de sair, leio algumas matérias dos jornais literários que assino.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Mesmo não sendo minha fonte de renda oficial, apenas um hobby, integro a escrita à minha rotina de trabalho. Por isso a chamo de hobby/trabalho. E o horário que mais favorece a criação de novas cenas é o período matutino, quando estou com a cabeça fresca e descansada. Já para as tardes, deixo as correções e pesquisas. À noite fico apenas com minhas leituras “de diversão”, exceto quanto fico apertada demais no período da manhã com leituras jornalísticas, daí deixo as leituras “obrigatórias” para o período noturno. Mas, isso não é uma regra fixa. Hoje tenho esse ritual, amanhã posso querer modificar. Dependerá sempre do meu momento. A vida é um grande ciclo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Meta diária não. Não consigo ser aquele tipo de autora que escreve um livro numa sentada ou em apenas um ou três meses. Até porque gosto de estudar o que estou escrevendo, então não dá para ter pressa. Desse modo, minha rotina se faz por doses homeopáticas, escrevo sempre duas horas a cada turno de trabalho. Mas se fico muito atolada com os outros afazeres, escrevo apenas uma hora por turno. Prefiro esse ritmo mais lento, assim a escrita fica mais leve e mais atenta.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando crio uma ideia – e ideias sempre estão surgindo, pois enxergo histórias em tudo -, logo monto um roteiro. Nesse roteiro detalho tudo, de personagens a enredo e descrevo logo os capítulos.
Feito isso não fica difícil começar, pois as cenas formadas ficam todas em minha mente e sei exatamente o que quero contar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Para não ocorrer as travas mantenho sempre dois projetos de escrita em andamento. Sempre duas opções. Assim, se as ideias não estão fluindo bem naquele dia ou naquela hora, paro e faço a correção de outro trabalho, ou paro e faço a correção do que já tenho escrito – de um livro em construção. Sempre deixo alternativas para não me estressar com a escrita, para que ela continue sendo um caso de amor e não uma obrigação torturante.
Quanto ao medo de não corresponder é muito natural, principalmente em um país onde o hábito de leitura não chega a 50%. Eu tento fazer meu trabalho, sem expectativas de vendas e sim de carinho para com os leitores que adquirirem a obra. Quando recebo críticas construtivas, seja por algum erro ou de reconhecimento pelo trabalho, anoto e guardo com muito carinho, principalmente quando a pessoa faz isso de maneira zelosa. Mas existem pessoas más e frias, para com estes, prefiro manter, com respeito, certa distância e não me apegar. Não tenho paciência para guardar sentimento ruim dentro de mim.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A cada capítulo finalizado releio de duas a três vezes. Gosto de fazer isso à tarde, período em que fico menos ativa para criar. É também um momento para perceber o que escrevi e como irei editar o próximo capítulo.
E, sim, sempre tenho meus leitores betas, sempre com número ímpares e mínimo de três para que eu teste e tenha um termômetro da obra. Tenho também editores pessoais, para quem envio os textos antes de encaminhá-los para o editor final ou para a editora que cuidará oficialmente de todas as partes burocráticas existentes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tecnologia 100% ativa. Não consigo escrever em papel, ter agenda de papel, canetas coloridas, planner, post-it etc. Até tentei, mas não rendeu. Eles me deixam muito mais distraída e sempre fico desapontada com minha letra. Escrever no celular também não funciona, por causa das distrações das redes sociais (apesar de que já me excluí de quase todas).
O notebook é meu maior aliado, por isso, no trabalho, optei por ter o meu próprio, para poder usá-lo da melhor forma possível. É nele que escrevo, faço as leituras obrigatórias em e-book; é nele que tenho a agenda eletrônica (planner, para outros); e grifo, marco texto, faço anotações. Ele é meu maior parceiro e companheiro.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De tudo. Do cotidiano, da vida, das séries, do esporte, das conversas. Principalmente conversas com idosos (eles sempre têm histórias boas para contar). Das viagens também, por isso levo sempre o notebook para casos de emergências. (risos)
Mas o que realmente me inspira são meus amigos. Apaixono-me pelas histórias de superação, amadurecimento e de como eles confiam em mim para desabafar. E quando vejo que uma história tem muito, muito a ensinar, acabo não resistindo e faço um pedido especial. E se o acordo acontece, as entrevistas começam, a missão se concretiza e começo a escrever!
Gosto dessa evolução e de fazer da minha escrita um bem para alguém. Além de que amo ver as pessoas que amo brilharem com suas histórias, querendo mostrar suas evoluções e passar adiante. Isso é bom para percebermos que somos errantes, mas que podemos escolher amadurecer e não julgar ou se prender aos erros.
Não existem hábitos fixos, mas algo que tem se tornado rotina é o “filtrar” notícias e leituras que não me fazem bem, para que não poluam a minha escrita nem a minha alma. Não sou apreciadora de sensacionalismos, fanatismos e extremismos. Hoje, o noticiário utiliza muito esse trio. Procuro me manter atualizada por meio de conversas e leituras de jornais mais sérios, mas sem a lavagem cerebral que uma notícia cheia de exageros pode trazer.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O amadurecimento. As coisas aconteceram devagar propositalmente. Pois queria sentir cada passo. Recusei muitos convites, e não por achar que não precisava deles, mas por não me achar preparada.
Aprendi por meio da educação familiar que devagar, projetando, focando, conseguimos conquistar o objetivo. Por exemplo, comecei como blogueira literária para poder conhecer e participar do meio, ao mesmo tempo, em segredo, já escrevendo meu primeiro livro.
Era um sonho. Então, estudei com o blog, fiz cursos de escrita, fiz amizades lindas! Algumas passaram, outras ainda conservo e outras moram no coração. Amo muito construir amizades do meio. O sucesso dos meus colegas e amigos literários é meu amadurecimento e minha felicidade.
Atualmente, de blogueira consegui chegar ao foco principal: tornar-me escritora! E a cada trabalho aprendo e estudo mais. Do primeiro autoral ao mais recente, vejo uma evolução nítida da escrita. Se eu pudesse, diria: “Não tenha medo, procure mais leitores betas”. Acho muito importante o olhar de quem está de fora, eles sempre proporcionam um termômetro. No livro Decidir não pude fazer isso, pois fiz escondido, com medo de não dar certo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Projetos? Tem uma fila enorme na minha lista. E, se surge uma ideia, logo a registro. Por hora tenho três projetos ativos: dois em construção e um em correção.
Existem ainda dois temas em especial que sonho bastante em ler, mas que ainda não consegui achar nenhuma literatura do tipo. Um tem como tema o cooperativismo, mas os detalhes são sigilos de escritor. Já tem até roteiro, faz parte da imensa lista de projetos, caminhará devagar, mas um dia ele nasce.