Orlando Fonseca é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
No momento sou aposentado, após 31 anos de ensino superior, nos Cursos de Letras e Comunicação Social/UFSM (mais 10 anos no ensino fundamental). À época em que precisava ir para o Campus, minha rotina era de me preparar para isso. Atualmente, minhas tarefas matinais não me exigem qualquer preparo. Normalmente gosto de ler o jornal, tenho assinatura de impresso local, depois passo às notícias do mundo, que pesquiso na Web. Raramente começo a escrever pela, atualmente, a não ser no sábado e no domingo, pois preciso entregar uma crônica semanal para o Portal claudemirpereira.com.br, e uma crônica mensal para o Jornal Diário de Santa Maria.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Meio da tarde até início da noite (20h). A aposentadoria me deu a oportunidade de fazer a “sesta”; no entanto, antes eu começava a escrever logo após o almoço e seguia até cansar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
No momento não tenho um projeto específico; mas quando tinha uma produção narrativa mais intensa, especialmente meus dois romances (Poço de luz e O quadrado da Hipotenusa) e os quatro livros infanto-juvenis (Da noite para o dia; Sangue no último ato, Na marca do pênalti e O estojo Vazio), ainda tinha minha atividade de aulas, com uma carga horária razoável, então preparava o texto ao longo do ano (ideia, sinopse, possibilidades da trama, configuração das personagens), e durante as férias trabalhava o maior número de horas possível, todos os dias da semana. Isso tomava de 3 a 5 semanas. Depois voltava ao texto bruto, desta primeira escrita, para as diversas reescritas e revisões.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Normalmente parto de uma ideia, em torno da qual crio uma situação (ação humana, circunstâncias, e personagens para a vivência do conflito). Quando isso está mais ou menos delineado, vou fazendo as anotações em um arquivo, no qual vou acrescentando elementos narrativos que considero relevantes. Busco informações de todas as formas: na internet, nos livros, em conversas com outros escritores.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tenho um romance inédito, talvez inconcluso, quer dizer, tem início meio e fim, mas talvez careça de algo que não sei o que é. Passei ao menos uns três anos trabalhando nele. Antes dele nunca passei por qualquer tipo de travamento. As circunstâncias em que isso se deu têm mais a ver com minha vida pessoal do que com dificuldades técnicas. Nos projetos anteriores, incluindo três peças de teatro (O Marinheiro em Pessoa, Santa e Swing and Blues) e dois musicais (Imembuy e Estrelinha de Natal) uma vez que eu iniciava o processo de compor o texto não parava mais. No momento, faço parte de um coletivo de autores (Turma do Café), que se reúne semanalmente em um bar – isso há 17 anos. Em cada ano tivemos um projeto literário, que lançamos na Feira do Livro de nossa cidade. Para este grupo, para o qual produzimos textos poéticos ou narrativos (contos ou crônicas), uma vez definida a feição do projeto para o ano seguinte, começamos a trabalhar, individualmente na criação, e coletivamente na produção editorial.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tantas quantas eu achar que é necessário, isso realmente se torna uma obsessão. Para alguns dos meus amigos escritores, mas muito seletivamente.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quase sempre em computador. Carrego comigo uma moleskine, na qual anoto frases, palavras que podem servir para algum texto, normalmente para as crônicas, por vezes, alguns versos. Poesia tem algumas que começo rascunhando à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Do vivido, do que leio, ouço, imagino. Ler obras bem elaboradas, de autores referenciais é a mais potente ferramenta para manter a mente criativa. O exercício da escrita vai aprimorando a técnica.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A qualidade, sem dúvida, tanto em relação ao uso do vocabulário, quanto à profundidade no sentido de abordagem da experiência humana. Diria, como gaúcho: Vai viver, guri!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O libreto para uma ópera-rock.
Já li tanta coisa (tenho uma média elevada de leitura, uns 40 livros de literatura por ano), e vejo nas prateleiras das livrarias tantos livros (e autores) que ainda não li, que não sei (não imagino, talvez tenha preguiça de fazê-lo) que texto não haveria ainda.