Oceano Albuquerque é Filho do Boto.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Gosto de me levantar de manhã, tomar uma boa xícara de café olhando a vista da minha janela e então voltar para a cama. Durmo ou apenas aproveito o frio que faz de manhã enrolado nas cobertas e quando está próximo às 10 da manhã, me levanto. Tomo um banho, escovo meus dentes, tomo café e então vou escrever. Escrevo até a hora do almoço.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Tento fazer meu trabalho render o máximo possível. Meu único ritual é colocar o fone de ouvido e escutar uma boa música enquanto escrevo. Existem histórias que merecem ter a trilha sonora certa.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Minha meta é escrever até onde der. Se eu me sentir satisfeito com o que eu escrevi, eu tenho certeza que ainda dá ára puxar mais um pouquinho e melhorar aqui e acolá. Procuro escrever pelo menos diariamente pela manhã e também no final da tarde, se eu estiver disposto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tudo começa com uma ideia. Pode ser o título, uma frase ou várias outras coisas. No meu projeto atual, tudo o que eu tinha quando comecei foi a minha vilã, Diva Dolores, a frase final, que obviamente ainda não direi, e uma predileção por novelas mexicanas e bastante drama.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu já me desesperei muito com isso. Mas hoje em dia é aceitar e ir fazer outra coisa até as travas passarem. A procrastinação é algo em que sou viciado, então tenho que estar sempre me policiando para não acontecer demais. E o resto, conto com a ajuda de terapeutas e óleos essenciais para manter a calma.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Uma vez eu mesmo, outra a minha agente, outra os leitores beta, aí sou eu de novo, depois é a editora e aí novamente eu uma última vez antes de publicar. Sim, eu mostro o texto para outras pessoas, mas só depois que eu registrá-lo e tiver meus direitos autorais, para não correr risco de plágio. Existe muita gente nesse mundo que não necessariamente tem boas intenções.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
No que estiver mais fácil. Meu primeiro livro foi todo escrito à mão antes de ser digitado, porque isso servia de estímulo para mim. Mas não sei se eu faria uma narrativa longa novamente.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
De todo lugar! Ideias não param de chegar em minha mente. Costumo dizer que eu sou uma entidade e meu trabalho é criar e destruir mundos. Não, não há um conjunto de hábitos, eu apenas me movo pela curiosidade. Existem muitos assuntos que me fascinam e eu gostaria de escrever sobre, assim como pessoas que, por um acaso, são anônimas e têm histórias interessantes. Existe um personagem em O Decadente Circo dos Sonhos, meu próximo romance, que é inspirado em cinco pessoas diferentes.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Minha escrita está mais madura. Quando você entende a escrita como uma prática e não um dom, sente a necessidade de estudá-la e aprimorá-la. Não escreveria nenhum texto da mesma forma que há dois anos atrás, e daqui a dois anos não escreverei da mesma forma. Quanto ao que eu diria para o passado, “Foco, Oceano! Não vai demorar e você vai conseguir terminar esse livro!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tem um romance sobre uma cachorra muito especial que esteve comigo por alguns anos, Monga, a buldogue francês. Quero escrevê-lo pois nossas memórias são tesouros particulares que, para mim, eu não faço questão de esconder. Que todos conheçam Monga, e vejam-na do jeito que eu a via.
Também tem uma história que envolve a criação de bodes e um monstro como o de Frankenstein no sertão paraibano, estado ao lado de onde eu moro, e, é claro, uma Space Opera Especulativa chamada Caubóis de Dinossauros no Espaço (E a Terra é uma espiral). Fora isso, tenho de quinze a vinte outros projetos na fila que são justamente os livros que eu queria ler e ninguém escreveu ainda.