Norma de Souza Lopes é poeta, professora e articuladora de leitura na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Trabalho como professora na PBH, onde atuo na biblioteca com formação de leitores. Minha rotina de leitura e escrita está, quase sempre, relacionada a esse trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A escrita poética e as traduções que produzo para o blog Norma Din costuma ser feita nos intervalos do trabalho e no fim de semana.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo por incômodo. Daí a impossibilidade de meta e a produção medíocre em períodos de calmaria. Viver sem doer implica em escrever poesia ruim. Mas todo mundo tem seus dias de consertar chuveiros, amar todo mundo e só ser feliz.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu sempre escrevo na pagina de postagem do blog. Geralmente é uma combinação de volição/incomodo com tempo livre. Algumas coisas que leio também costumam servir como gatilho. Com frequência uso alguns recursos tecnológicos como dicionários de sinônimos, antônimos, rimas e de símbolos. Uma vez que abri a página para escrever não costumo ter dificuldade, no entanto já escrevi textos que tive que deixar “amadurecer” por um empo antes de ficarem prontos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevo com uma certa periodicidade, duas três publicações por semana (prosa poética e poemas). Quando passo muito tempo sem escrever começo a me sentir mal, pouco produtiva. Quanto a projetos grandes, sou muito focada. Não largo enquanto não termino.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho poucos inéditos, quase tudo que produzo está no blog e no facebook. Então a interação com o texto é intensa por causa do retorno dos leitores. Um poema às vezes é relido mais de vinte vezes. Fora isso há a preparação para publicação impressa. Quando percebo que há uma unidade no que escrevi eu reúno, altero, elimino versos, mudo titulo e reagrupo tudo em forma de livro. Isso tem acontecido num intervalo de cerca de dois anos. Inclusive acabei de concluir esse processo com meu próximo livro denominado “A mulher do norte”.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador? Como já disse, escrevo sempre no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias surgem das minhas experiências cotidianas e da leitura. Sou uma leitora compulsiva, trabalho com formação de leitores em uma escola com 21 turmas e isso contribui muito para a minha escrita. No momento, por exemplo, estou trabalhando com a Mostra Literária e para tanto tive que reler obras de Guimarães Rosa, Drummond, Lima Barreto, Fernando Sabino, Adélia Prado, Alvares de Azevedo, Graciliano Ramos, Osvald de Andrade, Paulo Leminski, Luis de Camões, Castro Alves, Eça de Queiroz e Murilo Mendes. Geralmente eu preciso apresentar a biografia do autor e alguma obra. Isso me obriga a interagir de maneira mais acurada com os textos. Estou certa de que esse projeto vai afetar minha escrita e fico contente por isso. É o emprego dos sonhos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu mantenho algumas publicações de quando comecei a escrever. Percebo que já é possível notar uma voz peculiar em minha escrita mas ainda não estou pronta. Desde sempre eu persigo as técnicas com formação e leitura. Mas evito me tornar asséptica demais. Alguns ruídos são necessários.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um sonho de escrever prosa. É o que eu mais queria no momento. Gostaria de criar uma narrativa que subvertesse a jornada do herói de uma maneira que ainda não foi feito. Espero que eu tenha tempo e criatividade para isso.