Noemi Jaffe é escritora, professora e coordenadora da Escrevedeira.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é completamente trivial e acho que nem vale a pena contar. É como a de qualquer pessoa: higiene, café da manhã, dar aula.
Dificilmente tenho tempo para escrever pela manhã, mas quando consigo é o melhor horário para mim. Parece que as ideias estão naquele lugar bom, entre o sono e a vigília. Mas não tenho rotina nenhuma para isso.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Como disse antes, quando consigo, pela manhã. Mas como raramente consigo, deixo para a hora que der, geralmente quando resolvi minhas pendências práticas.
Minha única rotina é desligar internet e celular e tentar ficar num lugar com o máximo de silêncio.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não consigo escrever todos os dias; escrevo quando sobra tempo. Tento manter uma meta de escrever entre 1 e 3 páginas por dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depende muito do livro. Já escrevi livros em que fui descobrindo o que escreveria à medida que escrevia e não tive planejamento nem pesquisa anterior nenhuma e outros, como o que escrevo agora, em que foi necessário um longo período de estudo, pesquisa e coletas de notas, para que a estrutura do livro fosse se estabelecendo na minha cabeça. Dessa vez, copiei trechos longos de um livro inteiro que eu achei que poderia me servir de inspiração para as frases que gostaria de escrever. Mas, uma vez que essas coisas estão feitas, é fácil começar. Mas ao longo da escrita, vão surgindo muitas dúvidas, crises, reescritas e desvios inesperados. É disso que eu gosto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido mais ou menos. Fico mexida, me sinto culpada, mas nada que me impeça de fazer as outras coisas. Sei que vou achar o caminho, mesmo com bastante medo e que não sou uma pessoa muito apegada a nada, feliz e infelizmente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso inúmeras vezes, inúmeras mesmo. É um trabalho incessante. Dessa vez, inclusive, mostrei até alguns trechos para os meus alunos, para eles acompanharem um processo longo de correção. E geralmente mostro antes para algumas pessoas, sim. Acho isso muito importante.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo no computador. Só as anotações é que são a mão. Não tenho problemas. Gostaria de guardar todas as versões do que escrevo, mas não guardo. Sou preguiçosa e desorganizada.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm, principalmente, das leituras. Vou lendo e pensando em recursos que posso imitar, emprestar, soluções narrativas etc. Também gosto muito de ouvir a forma como as pessoas falam, tentando, com isso, emprestar naturalidade à voz dos personagens. Quando estou escrevendo, tudo me dá ideias. Ir ao restaurante, conversar, fazer compras. Para me manter criativa, o mais importante é ser curiosa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que a mudança mais importante foi eu ter ficado mais cuidadosa e, às vezes, até chata. Não deixo mais passar coisas que antes deixava e acho que estou um pouco menos introspectiva, embora ainda seja muito. Menos enrolada, talvez. Se pudesse voltar aos meus primeiros textos, eu queria um pouco mais de uma inocência perdida e diria para a menina séria que eu era aproveitar mais a vida.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de fazer mais coisas conjuntas e também livros mais parecidos com “A verdadeira história do alfabeto”, mais “viajandões” e divertidos.
O livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe é o livro apócrifo de Platão, mandando à merda todo o idealismo que ele mesmo criou.