Nilza Amaral é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia depois do café da manhã. Faço meu desjejum, aprecio a beleza do sol da manhã, ou da chuva que cai e rega minhas plantas do minúsculo jardim do terraço de dois metros quadrados. Enfim, agradeço por mais um dia, ou menos um desde que estamos nos despedindo do mundo a cada dia?
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre trabalho à noite, depois das onze horas. Gosto do silêncio da ausência de celulares telefones, enfim a madrugada sempre foi a minha companheira.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou romancista. Faço um diagrama do que vou escrever. Construo personagens, e me ponho a dar voz a eles. Geralmente durante do curso da escrita, eles vão exigindo mais personalidade.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou observadora, faço pesquisas, mas geralmente um fato me chama a atenção.
Quando escrevi O florista, estava tomando um café na Hadock Lobo em frente a uma floricultura. Uma mulher comprava flores e a aparência do vendedor de flores me chamou a atenção. Então imaginei um romance entre eles.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevo para mim, sou exigente e se me agradar agradará os leitores. Sou professora de línguas e literaturas, portanto exigente com o idioma, as concordâncias verbais, com o estilo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes, mudo falas, reescrevo. Mas consolo-me com Gabriel Garcia Márquez que nos conta em sua biografia O cheiro de Goiaba, que uma vez revisou um texto 175 vezes e depois o descartou. Coisas de escritor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Em 1998 comecei a trabalhar como freelancer para a Secretaria de Cultura do Estado.
O projeto chamava-se O escritor na Biblioteca, Diálogos e Debates. Gravava o depoimento dos escritores e depois transformava em textos, e então conheci o computador. Nunca mais o abandonei.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Da vida, da rua, das notícias, da sociedade injusta às vezes. Como no caso de minha novela Expulsão do Paraíso, que conta a trajetória do sertanejo inconformado com sua pobreza e feiura que parte em busca de suas origens e dialoga com Deus durante o trajeto.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A vida muda, você muda. Em 1984 quando escrevi O dia das Lobas e recebi o Prêmio Escrita de Ficção, a ideia era denunciar a violência urbana usando as técnicas da ficção cientifica. Abri um dos jornais da época e transformei em novela as notícias ali vinculadas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Já estou fazendo. Chama-se, para você em primeira mão, Os inquilinos do Caos, e o tema é São Paulo. Pode ser que eu mude o título, só no final o título real aparece.