Nicolás Irurzun é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sempre ouvimos falar sobre “livros de cabeceira”, o costume de ler uma obra antes de dormir. Comigo funciona diferente: inicio meus dias com a leitura acompanhada de um bom café.
Essa é, pois, minha rotina matinal: enfrentar a alegria desesperada de meus três cães vira-latas, preparar o café com o tradicional coador no bule e ler por cerca de uma hora.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para a escrita funciono melhor no período da tarde, quando a mente está mais ativa e já planejei os detalhes necessários para desenvolver o enredo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como preciso manter um emprego “formal” para pagar os boletos, escrevo apenas aos sábados. Sem metas nem cobranças, buscando desenvolver o melhor possível da história idealizada, tentando fugir das soluções óbvias. Se o editor cobrar, a gente dá uma acelerada…
O romance “Janete”, que acabei de lançar pela Editora Pandorga, demorou cerca de um ano para ser escrito, depois veio outro ano para revisão, edição e os demais “detalhes” até sair da gráfica.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Até o momento, as histórias que escrevi não demandaram extensa pesquisa. Ainda assim, costumo passar a semana buscando informações necessárias e imaginando desenrolares interessantes para a narrativa. Quando chega o sábado, tenho esse mix embolado na mente e passo para o micro. Sempre perco um pouco mais de tempo para começar, pois o início (do livro, do conto, do capítulo) deve prender a atenção do leitor, então confabulo um pouco mais. Após o pontapé inicial, normalmente a escrita deslancha. Mas se por acaso travar, deixo para outro dia. Como não tenho grandes compromissos com prazos, prefiro aguardar do que escrever “qualquer coisa”. É preciso tomar cuidado, apenas, para não procrastinar indefinitivamente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nunca tive problemas graves com isso. Se numa semana a escrita está “travada”, deixo para outro dia. Até hoje, sempre deu certo. Nunca fiquei ansioso em projetos longos e só depois da publicação é que vou me preocupar se a história irá agradar aos demais. Durante o processo de escrita, busco agradar a mim mesmo, procurando alternativas pouco usuais nas situações desenvolvidas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não tenho o hábito de mostrar a outras pessoas, não tenho os tais “leitores-beta”. Um amigo jornalista faz a revisão do texto para deixá-lo o mais pronto possível antes de enviá-lo à editora.
Até essa fase, porém, releio pelo menos duas vezes o texto inteiro. A primeira vez é quase uma reescrita, na qual incluo passagens, retiro outras, confiro se não há furos na história. Depois, confiro se o texto ficou coeso, se a narrativa está verossímil e os personagens, coerentes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia existe para nos ajudar. A gente só precisa saber domá-la, não se tornar dependente. O computador traz consigo recursos inimagináveis para as máquinas de datilografia ou a caneta. Não faz sentido prescindir. Quanto aos primeiros rascunhos, eu digito no Word, imprimo e depois, à medida que as ideias vão se aprimorando, vou rabiscando o impresso à caneta. O ideal seria passar a limpo e reimprimir, mas normalmente fica nessa bagunça mesmo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Da observação cotidiana. Não há uma regra, as ideias surgem quando menos espero. O melhor hábito para a criatividade é manter a mente aberta. Ler de tudo, assistir de tudo, não renegar qualquer estilo de música. Mente aberta & coração tranquilo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Tornei-me mais atendo aos detalhes da história, mais cuidadoso com o desenvolvimento dos personagens. Lapido a história por mais vezes após terminar a primeira versão.
O que diria a mim mesmo no início? Invista mais em contos, deixe as histórias extensas para depois…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever ficção especulativa. O embrião da história está em desenvolvimento, creio que será um dos próximos livros. É exatamente o livro que gostaria de ler e ainda não existe. Como ninguém o escreveu, terei que arregaçar as mangas!