Nicolas Behr é poeta brasiliense.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia como todo mundo: levanto da cama, tomo um banho, tomo um café da manhã, me preparo para vir trabalhar no meu viveiro de plantas, minha floricultura, em Brasilia, DF. Não tenho rotina matinal em termos de escrita, só de trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Às vezes consigo chegar no viveiro antes de abri-lo para o público. E aí consigo dar uma rabiscada em alguns poemas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
O ideal pra mim são os sábados e domingos, já que não sou um escritor profissional, vivo do meu viveiro de plantas. Às vezes consigo chegar em casa lá pelas 16-17 horas, aí no silêncio da tarde, sem ninguém em casa, consigo organizar meus escritos, sempre em apostilas encadernadas. Não tenho meta de escrita diária, pois a poesia aparece quando a gente menos espera… e às vezes a chamamos e ela não vem.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou poeta. E leio muito romances. Tenho mais prazer em ler do que escrever em prosa.
Pra poesia não precisa pesquisa, precisa estar com a mente aberta, o ego distraído, com tempo e disposição pra escrever… pegar aqueles papéis que joguei dentro da caixa de sapatos que tenho sobre a mesa e desenvolvê-los, ou não.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Para o escritor não existe tempo perdido, existe tempo acumulado. Um livro meu leva, em media, cinco anos para ficar pronto e, como estou sempre escrevendo algum, com temáticas diferentes, estou sempre lançando livros… um passa na frente do outro, outros são esquecidos ou se juntam a outros. Cada livro de poemas tem muitas versões… rabisco muito, pois o poeta é um trabalhador braçal da linguagem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso centenas de vezes, mexo muito, mas não tanto que deixe o poema liso demais. Gosto do poema meio incompleto, com arestas… onde o leitor possa se agarrar. Mostro sim, para amigos mais chegados.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo à mão em cadernos velhos, de rascunho. Passo pro computador e depois imprimo, formando apostilas, que são rabiscadas e depois “passadas à limpo” no computador… e aí imprimo de novo, faço as apostilas e vou rabiscando até o livro ficar pronto, quando ele dá aquele “click”.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Escrevo livros temáticos, digamos. No momento estou escrevendo um sobre Brasília, um sobre a minha relação com minha esposa, pois estamos juntos há 35 anos. É o livro que visito quase todos os dias. Estou também no processo de escrita de um livro genérico, não temático, todos de poesia. Um livro sobre minha infância em Mato Grosso, também está na minha mesa de trabalho e de vez em quando dou uma passada de olhos nele. Hábitos para me manter criativo? Ah, ler bastante, poesia, romance. Escrever muito e rasgar mais ainda. A lata de lixo é a melhor amiga do escritor.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Publicaria menos. Eu acho que minha escrita melhorou muito, depois que comecei a dar Oficinas de Poesia, que me obrigaram a ler muita teoria literária.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Vamos ver. Todo escritor está sempre em busca do grande livro, inatingível. Eu vou tocando meus projetos de livros, e tenho temas e assuntos para o resto da vida, acredito.