Natascha Stefania Carvalho de Ostos é doutora em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa cedo, mas nada acontece antes de tomar café. Em termos de rotina, primeiro passeio com o meu cachorro, ao retornar respondo e-mails e organizo as tarefas cotidianas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
No caso de ter um projeto de escrita em andamento, começo cedo, escrevo melhor pela manhã, o ímpeto diminui com o passar do dia. Não tenho um ritual de escrita definido, mas organizar o processo é essencial. Normalmente escrevo pela manhã e leio ou estudo no período da tarde. Sou improdutiva à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária, pois não se trata de um processo totalmente controlável em termos racionais e quantitativos. A escrita acadêmica, além de estudo e disciplina, também envolve criatividade e inspiração, tais forças dificilmente obedecem aos nossos comandos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita começa pela definição do tema, pesquisa bibliográfica, leitura e estudo. Tomo notas, registro observações e ideias. No caso da escrita de um artigo, monto um roteiro simples do texto. No primeiro momento é perda de tempo buscar a versão final de cada frase, o importante é iniciar o trabalho.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Raramente sofro com a escrita, obviamente é algo trabalhoso, mas gosto de escrever. No caso de um bloqueio, não insisto, faço outra coisa. Por isso, quando existem prazos a cumprir, evito deixar para a última hora, assim tenho tempo para enfrentar as dificuldades que surgirem. Outro ponto importante é saber quando o dia de escrita já rendeu o suficiente, melhor escrever três parágrafos de qualidade do que muitas páginas desconexas, descartadas na manhã seguinte. Tento fazer o melhor que posso. A partir dessa premissa, procuro pensar que não se pode controlar a recepção daquilo que escrevemos. As críticas que vierem após o texto publicado fazem parte do debate, encaro como aprimoramento; o diálogo acadêmico, sendo honesto, é fundamental.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso meu texto até ficar minimamente satisfeita com ele, não tenho um padrão. Procuro respeitar as normas de publicação das revistas, organizar bem as notas e a bibliografia, cuidar do português. O autor deve respeitar o leitor em potencial. Não tenho o hábito de mostrar os meus textos para outras pessoas, mas é uma possibilidade em aberto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço anotações à mão, palavras-chave, expressões, frases curtas, lembretes. A escrita do texto sempre ocorre no computador. Minha relação com a tecnologia é funcional.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Bem que eu gostaria de saber… Não sei de onde aparecem as ideias, mas no caso da reflexão acadêmica acredito que é preciso ter um equilíbrio entre estudo/pesquisa e criatividade. É fundamental manter a mente aberta, não viver exclusivamente para o trabalho, dormir bem, sair de casa, espairecer, ter amigos e rir, muito, principalmente de si mesmo, de suas pretensões e dos seus delírios.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
O processo de escrita muda conforme a própria pessoa muda, faz parte do amadurecimento do sujeito. Não faria alterações substanciais na minha tese, não por acreditar que é um texto perfeito, sem possibilidade de aprimoramento, pelo contrário. Porém, ela é fruto de um contexto, de um tempo específico, envolveu muito esforço, trabalho e entrega, a tese é o testemunho desse processo. Mas, no que se refere ao tema, estou sempre aberta ao diálogo e a repensar ideias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Normalmente não vivo na expectativa de projetos futuros (causa muita ansiedade), prefiro terminar aqueles que estão em curso, para então iniciar outros. O mundo já está cheio de livros interessantes, gosto de me surpreender quando uma dessas obras chega até mim. O inesperado tem mais sabor!