Mônica Martins é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia não tem um roteiro. Meu horário de acordar não é constante, e não gosto de acordar cedo. Minha rotina matinal, quando consigo estar em casa pela manhã, é de acordar sem pressa, tomar café e visitar minhas orquídeas no quintal. Alimento minha dupla de 4 patas, Laika, uma dálmata e Lizzie, uma poodle. Leio meus e-mails, arrumo um pouco da papelada que insiste em morar onde bem quer, e se, pintar uma ideia, escrevo. Não funciono, como escritora, com uma rotina. Isso de sentar tantas horas, tal horário, e ter que produzir comigo não funciona.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre preferi fazer minhas escritas e estudos de madrugada. O silêncio sem interrupção era tudo!!! Sempre fiz isso, desde o tempo de faculdade, sim, cursei jornalismo na falecida Gama Filho. Depois dos filhos, Natália de 27 anos e Antonio, o Tom, de 24, essa rotina de trocar a noite pelo dia mudou. As crianças tinham outro ritmo, e não podíamos ter o sono desencontrado. Comecei a dormir quando eles dormiam, e como sempre foram muito tranquilos para tudo, foi muito fácil ajustar os relógios. Minha escrita não tem uma preparação do tipo: separar papel em branco, canetas e ficar tentando escrever. Meu hábito é escrever à mão, nunca no computador, e geralmente as histórias pedem pra ser escritas. Os únicos textos que pedem uma preparação são os que dependem de um prévio estudo e pesquisa sobre determinado assunto. Os outros simplesmente surgem, e pingam no papel. Isso acontece de forma completa, foram pouquíssimos textos que empacaram. As histórias nascem inteiras e começam pelo título.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Costumo escrever todos os dias, mas sem compromisso ou pressão.
Não tenho metas de escrita diária. Anoto ideias, às vezes volto nelas logo, outras não. Minha escrita é encantamento e não consigo colocar-lhe rédeas. Não sei se, tivesse que produzir tantas laudas por dia, daria conta. Sou afortunada de não ter obrigatoriedade vinculada à escrita.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente me vem a ideia da história. Como um enredo, a história como um todo. Dependendo do assunto, recorro à pesquisa e recolho dados. Se não há uma proximidade com assuntos que eu não domine, deixo só a imaginação voar. Sou boa nisso: viajar nas ideias.
Se acaba envolvendo pesquisa, trato sempre de colocá-la no texto de forma lúdica. Não quero ver meus textos obrigações de escola. Recentemente me inscrevi num concurso literário sobre o bicentenário da nossa independência. Logo pensei: Vou participar e vou fazer a Emília de Lobato falando da Independência, afinal ela não era a própria Independência ou morte? Ganhei o concurso e logo as crianças de hoje lerão uma aula de história do jeitinho lobateano, sem didatismo. Comigo funciona assim. Outra história que teve pesquisa sem didatismo foi “A terceira Reforma da Natureza- A valorização da água.” Falo da crise hídrica sem dar aula, apenas ajudando as crianças de todas as idades a perceber nossa responsabilidade no assunto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
No meu caso, não recordo travas, mas pausas. Nunca penso no agradar ou não- e talvez devesse prestar mais atenção nisso. Escrevi um texto num curso de extensão que achei bom de início. Resolvi enviá-lo à várias editoras e nada. Não houve interesse. Enviei ao escritor Pedro Bandeira, já que meu texto foi inspirado em seu O Mistério de Feiurinha e pedi sua opinião, e caso achasse pertinente, fizesse sua apresentação. Pedro leu, gostou, apresentou. Meu amigo André Flausino ilustrou. Me enchi de coragem e voltei com ele para as editoras. NADA.
Em 2016, parcelado em 4 vezes, fiz a ousadia de imprimir 100 exemplares pela Editora Scortecci. Lancei na Bienal de São Paulo, e distribui mais que vendi. Em 2017 pensei: vou testar se minha escrita vale. Inscrevi-a no Prêmio Jabuti. Nunca esperei tanto um resultado!! Pois bem, meu Príncipe desencantado: o dia em que Chapeuzinho Vermelho desencalhou foi finalista Jabuti na categoria adaptação.
Depois disso decidi não ficar refém do mercado: Abri em dezembro de 2018 a MoMa Editora, e pra estrear Uma família para Emília, com ilustrações de Maurício Veneza e apresentação de Jorge Kornbluh, marido de Joyce, neta de Lobato e responsável pela Monteiro Lobato Licenciamentos. Agora sei que estou no caminho certo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso menos do que deveria, ao ouvir meus pares nesta questão.
Meus primeiros leitores são sempre meus filhos, minha sobrinha Bruna, minha amiga e revisora Mônica Lucchesi. Depois deles, aí sim, um ou outro amigo mais chegado e sempre alguém com mais experiência no meio literário.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não ligo muito para a parte tecnológica. Sinto necessidade do papel, da caneta, de ver a letra desenhada nele. Neste quesito sou do time de Lygia Bojunga e seus cadernos, de Tatiana Belinky e seus papéis com setinhas e comentários.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm das crianças sempre. Meus hábitos para a criatividade passam diretamente no contato com eles. Quem vive com a infância de perto aprende a ser criativa. Bartolomeu Campos Queirós dizia que eu tinha a alma cheia de infância… ele via longe, estava certo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou foi a bagagem. A intuição se revestiu de teoria. As ideias são mais claras e elaboradas. O que diria a mim mesma?
Não desista! O caminho é este… siga escrevendo!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto em casulo é ter um teatro. Levar à sério meu outro Projeto Livro fora da estante, onde adapto literatura para o teatro. Fiz isso de 1999 até 2003 com meu grupo teatral Cia das Mães. Ficou adormecido. Tenho MUITA vontade de resgatá-lo! É uma vontade gorda como uma da personagem Raquel da Bolsa Amarela. Minha bolsa amarela continua abrigando minhas vontades.
Um livro pra ler que ainda não exista? Difícil…Nunca pensei nisso…
Agora vou pensar… quem sabe o escrevo?