Michel Euclides é escritor, professor de História e Filosofia e editor do Escambau, coletivo editorial de Fortaleza.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Inicio o dia lendo as notícias. Após isso, tomo um bom café da manhã enquanto leio um livro ou assisto algo interessante. Depois disso, sigo para o trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A melhor hora do dia para trabalhar é a manhã, quando estou mais desperto. Por conta da rotina de trabalho, porém, costumo escrever mais à noite, entre 20 e 22hs.
Não tenho rituais para escrever. Só sento diante do computador e começo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tenho ciclos de escrita. Épocas de escrever muito, feito louco, sem parar, produzindo horrores, e épocas em que escrevo pouco ou quase nada. Geralmente, não trabalho com metas, apenas escrevo e escrevo – ou não.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tenho vários gatilhos. Uma palavra ou música me levam a um poema; uma frase interessante me dá a ideia de um título, que me leva a um conto ou a uma história mais extensa; e já houve muitos casos em que sonhos me levaram a escrever. Nunca é difícil, para mim, começar. Difícil mesmo é continuar e concluir, principalmente quando são histórias mais longas.
Em relação à pesquisa, consumo o material bruto que vai servir de fonte, faço anotações e resumos e escrevo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido com serenidade, nunca sem forçar demais. Tenho problemas com ansiedade e disciplina, então estou sempre me trabalhando para não me cobrar em excesso. No geral, releio o material que está travado e retomo a escrita, até concluir.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Ah, a revisão… reviso várias vezes antes de mostrar para outras pessoas – geralmente minha esposa e amigos, que também são escritores. Mas não gosto do exagero: faço duas ou três revisões minuciosas e passo adiante, para não cair no excesso da vaidade e nunca sair do lugar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Por muito tempo escrevi no papel, mas não há como negar que há praticidade – e muita – em escrever no computador. Às vezes, uma ideia ou nota são redigidas no celular, mas hoje escrevo principalmente no teclado.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm do mundo. Uma foto, uma música, um filme, uma cena da vida real, um perfume, uma conversa… tudo serve para me alimentar nesse processo. Para me manter criativo, as principais coisas são: leitura, consumo de cinema e séries, boas conversas e minha profissão. Ser professor é estar sempre acompanhando a juventude, aprendendo e crescendo. Um professor sem criatividade não pode ser bom.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Sou mais conciso e objetivo agora. Minha escrita dispensa adornos e brilhos em excesso. Ela flui com maior dinamismo, e eu me preocupo menos com detalhes que, no fundo, não são tão importantes assim.
Se eu pudesse voltar e dizer algo a mim mesmo no início, lá nos primeiros textos, seria: não mude nada. Continue assim, você vai se tornar um escritor bacana lá pelos quarenta anos. Sem pressa, só continue lendo e vivendo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto que eu amaria fazer seria percorrer o Nordeste do Brasil coletando causos, e transformar isso num resgate da história viva do povo nordestino.
Eu gostaria muito de ler os livros que meus filhos irão escrever. Ambos são promissores na escrita, e fico curioso de saber o que vem por aí nas mãos deles.