Mércia Ferreira é escritora, bacharela em Administração Pública.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu inicio o dia por vezes de forma bem diferente. Eu costumo alternar minhas noites de sono entre duas casas, então não há como estabelecer uma rotina tão engessada. Mas, no geral, após o despertar, procuro arcar com minhas tarefas de casa, do dia a dia. E em seguida, por volta das 10:00 da manhã inicio minha rotina de escrita.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Bem, o meu melhor horário sempre foi a manhã. A tarde normalmente a produção é 50% menor, e, a noite, raramente flui. E, com isso, ganho o presente que muitos escritores não têm, que é dormir uma noite de sono bem tranquila, com no mínimo oito horas regulares. E, sim, eu tenho algo que não considero um ritual, e sim uma mania na hora de escrever. Então eu necessito que esteja tudo em mais absoluto silencio, e que meu quarto, o meu ambiente de escrita esteja completamente escuro. Com isso, após começar, não quero ser interrompida, o que leva ao fato de que pode a casa cair ou pegar fogo, eu não vou parar pra olhar até ter concluído o meu objetivo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Essa é uma questão variável e inconstante. Eu não gosto de padrões. Então por vezes escrevo todos os dias, e em outros, levo um período mais pausado. Depende do meu estado de espirito. O que me ocorreu esse ano, mesmo concluindo um romance que lancei recentemente, foi que atropelei muito o meu ritmo de escrita em decorrência de problemas pessoais. O que me levou a escrever mais em poucos dias ou a menos em mais dias. Tudo dependia do tempo e das emoções, já que não foi um ano de emoções leves ou fácil.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita é o tipo de coisa que, se eu morrer, ele morre comigo. Não sou a pessoa de anotações ou algo do tipo. Meu compilado de ideias é apenas meu e não o deixo solto por aí. E, como isso, iniciar não se mostrou até hoje uma tarefa difícil.
As pesquisas, eu sinto, são a melhor parte. Eu me sinto viva de verdade quando pesquiso coisas que complementem ao personagem. O ponto alto de tudo é saber que está abordando algo com respaldo para falar. Segurança é a base maior. Sem estudar cada detalhe, nem me atrevo a tratar o tema da ideia.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu, sinceramente, não sei lidar com os bloqueios. Eu me irrito constantemente quando ocorre, e me torno uma pessoa estressada e revoltada com o mundo se travar e não me sentir apta a produzir, afinal, a escrita é parte da minha essência e tirar isso de mim é como tirar o ar que eu respiro. Quando isso ocorre, eu mudo o curso das coisas, escrevo contos menores, em gêneros diferentes, e me alimento de novas ideias que talvez nunca as ponha no papel, relaxo e dou continuidade ao projeto maior. Eu sou o tipo de pessoa que se cobra muito sobre essas coisas, e consequentemente, penso as vezes em desistir, por medo de me decepcionar comigo mesma nesse âmbito.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu costumo escrever direto, sem parar, e só depois eu leio tudo de uma vez, revisando, até sentir que está pronto para ir para outras mãos para revisão final. Mas, enquanto vou desenvolvendo a história, costumo publicar no Wattpad, mesmo sem revisão, para ver os feedbacks que recebo, e só depois publico a obra final. Dessa forma, sempre escrevo capítulos bônus para o lançamento, totalmente inéditos para o leitor que já acompanhou na plataforma gratuita.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sou muito de tecnologias. Ao ponto de passar um mês inteiro pesquisando antes de comprar um notebook, por exemplo. O meu atual note foi uma experiencia tecnológica muito extensa. Eu testei modelos por aqui, pesquisei referencias, assisti a varias resenhas no YT, pra não ter que usar algo abaixo da média. Por que eu não sei escrever à mão. Rsrs Pode parecer estranho, porém, eu tenho a chamada letra de médico, e nem eu compreendo as vezes. Com os anos perdi o habito de rabiscar à mão por conta disso, e me tornei a pessoa que não vive sem um teclado e tela grandes.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As minhas ideias não pedem por tantos hábitos, já que gosto de várias os gêneros de escrita, para me sair de minhas zonas de conforto. Então cada ideia parte de um momento único e ímpar. Como se viessem de lugares diferentes da mente. Meus hábitos cultivados, no entanto, são apenas os de leitura e escrita. No mais, me mantenho longe “do mundo”. Não sou de sair pra coisas como baladas, não tenho práticas como bebidas alcoólicas ou qualquer outro vício. Minha vida se resume a trabalhos de casa, estudar e escrever. E mimar meus sobrinhos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Desde que comecei, o que venho observando fielmente é a minha evolução quanto aos traços da escrita. Evoluí grandemente, e devo isso em partes à convivência continua com outros autores, nossos diálogos enriquecedores e ao incentivo por manter a escrita ativa, mesmo quando penso em desistir. Nesse ponto, avaliando desde o começo da minha jornada até hoje, é quase inacreditável a mudança que a forma como escrevia mudou.
E é por isso que, se pudesse dizer algo a mim, diria para ir devagar, sem muita gula e com paciência. Eu me aventurava muito e ia com muita cede ao pote. No fundo, sinto as vezes que atropelei as coisas no início, mesmo que tudo tenha me trazido grandes aprendizados.
Estudar mais e mais também seria um bom conselho. Hoje eu passo mais tempo estudando que escrevendo, pra não errar. E antes, quando comecei, encarei com aquela ideia de iniciante de que meu “Dom” era o bastante para tecer bons livros.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu projeto salvo em mente, e que pretendo dar inicio ainda esse ano é “Conjunto Piauí”, que se passará em um conjunto habitacional ambientado na minha cidade – Piripiri-PI, em um bairro fictício, usando dos nossos costumes, nosso regionalismo, gírias, cultura, comidas e tudo o mais que compreende o pacote. Eu olho pra dentro de mim e vejo as cenas dos meus personagens. E sinto que será meu mais importante trabalho, por carregar o peso e valor de retratar o meu povo e a minha terra.
E, com certeza, ele é o livro que eu gostaria de ler, sem dúvidas. Tanto que, por alguns momentos, já passou pela minha cabeça abandonar meu livro atual e começar ele. Porém, não aceitei atropelar meus projetos, e irei concluir o outro, o qual já está quase no fim.