Melina Girardi Fachin é professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não. Caos absoluto e complexidade são a minha rotina. Cada dia começa de um jeito – aula, exercício, tarefas maternas, escritório…, a única coisa em comum é que todos começam muito cedo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre rendi melhor pela manhã, mas com a maternidade, as noites têm sido boas companheiras de trabalho – quando, após colocar a Flor na cama, finalizo as atividades do dia e dou continuidade aos projetos de artigos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Gostaria de ter, mas infelizmente não consigo. Nem sempre consigo produzir de modo voluntário, os convites aos artigos, livros etc… e os prazos deles é que vão me impulsionando.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não tenho um único processo linear, mas eu preciso ter uma carga suficiente de leitura sobre um determinado tema para colocar a mão na massa e começar a escrever. Depois disso, sempre monto um sumário provisório para me guiar. Mesmo os projetos longos desdobro em várias etapas de trabalho e acabo tendo metas a mais curto prazo. Por exemplo, este ano finalizo um livro coletivo sobre direito internacional dos direitos humanos e fui fazendo isto, colocando marcos intermediários.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como sou advogada, prazo para mim não se prorroga. Portanto, sempre cumpro com o prazo dos convites que me são feitos. As travas existem, mas a leitura é que sempre ajuda a superá-las. O medo de não chegar no resultado esperado é sempre constante, porque me cobro muito. Raramente acabo um texto com a satisfação de ler o que fiz. Aliás, depois que “abandono” meu texto tenho até uma sensação de estranhamento com ele.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sim. Sou afortunada por poder contar com uma boa força de pesquisa na universidade e no escritório que são parceiros destas interlocuções. Reviso uma vez e “abandono” o texto, senão nunca paro de mexer. Tem sempre algo a mais…
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Adoro escrever à mão, mas hoje não dá mais. Lembro-me que no mestrado fiquei muito impressionada quando soube, por exemplo, que a professora Maria Helena Diniz escreve os livros dela em cadernos ainda. Faço o sumário à mão com rabiscos até chegar a um plano precário-provisório e depois disso só no computador. O que ainda resisto são aos livros eletrônicos, prefiro a versão física. Meus livros são todos rabiscados, sublinhados, com post-it… tem a minha marca pessoal da leitura e da pesquisa.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Da leitura. Ler é o melhor meio de se manter criativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Aprendi a fazer mais em menos tempo. Isso com certeza ajudou. Também estou me impondo o desafio de ser mais direta, clara e concisa. Isso talvez eu faria na tese, seria mais sintética.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O direito e a literatura sempre foram duas grandes paixões. Voltar a estudar esta interlocução à luz dos direitos humanos me chama há tempos, mas sempre que vou me aproximar, outros projetos surgem e me afasto… uma reflexão mais madura sobre este tema me agradaria muito.