Mazô é escritora, graduada em Artes Visuais pela UFRJ.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Adoraria dizer que começo o meu dia de manhã, mas a verdade é que eu o fecho por volta das 6h da madrugada. Sou notívaga e a última coisa que faço na maioria dos dias é escrever no meu diário, mesmo que seja uma só frase. Ao acordar, passo um bom tempo refletindo até a vontade de sair da cama ser mais imperativa. Se eu saio antes dessa vontade, passo o dia me arrastando e não é tão bom. Ah, sempre deixo um copo d’água ao lado da cama, pra beber quando acordo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Começo a ficar estimulada e mais atenta a partir das 21h. Gosto da madrugada porque é solitária e silenciosa. Não tenho exatamente um ritual, porque quando preciso escrever/criar algo em especial, fico mergulhada em pensar sobre, nas questões que quero levantar e nas soluções formais que procuro. Então o que faço é anotar assim que me aparece qualquer ideia boa, ir juntando e do caldo final passar uma peneira, donde sai uma beterraba ou batata espontânea rs.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende. Eu trabalho muito com prazos e geralmente começo um trabalho com no mínimo 1 mês de antecedência. Se eu puder, trabalho todos os dias um pouco. Zero metas, só pragmatismo mesmo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar?
Como você se move da pesquisa para a escrita? Eu não escrevo romance, né, quando eu faço quadrinhos eu vou criando as thumbnails e depois coloco a mão na massa. Admito que não faço uma pesquisa histórica tão intensa. Geralmente as pesquisas ficam mais restritas ao google imagens, a fotografar coisas, a ir lendo livros que me inspirem, a xeretar conversas alheias, etc…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido rs. Ah, eu só vou levando. Eu nunca não termino uma coisa – isso me faz muito mal, deixar algo por ser feito. Então mesmo que o processo seja doloroso, eu sempre tenho em mente a obrigação de terminar o que comecei. Sou obstinada… ou teimosa mesmo. É sempre recompensador ter material finalizado pra uma publicação, no final das contas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
É melhor sempre mostrar, mas já errei umas bonecas de publicação no passado por não ter conferido com terceiros – o que me causou prejuízo financeiro até.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre começo no caderno, nos papéis soltos. Até mesmo desenhar eu faço em papel pra depois scannear. Se eu puder fotografar, prefiro não produzir direto nos bits.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Tem hábitos sim, mas a economia e dinâmica deles são duvidosos. Não recomendaria, acho.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não gosto de fantasiar com caminhos alternativos, prefiro me satisfazer com o que pude fazer pra chegar até aqui.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São dois: um sobre a vida dos meus avós (e junto muita coisa e seguro um bocado de material numa gaveta, mas a estrutura não tá nem perto de ter uma forma); outro é um projeto que tenho pensado de quadrinho performático envolvendo uso de aplicativo de encontro. Esse eu tô mais na dúvida se faço ou não, mas se eu decidir fazer, começo em agosto.
Imagino que existam universos de livros sobre qualquer assunto que eu possa imaginar como algo “inusitado”, não explorado, etc. O problema não está exatamente em conceber algo que espera-se que não exista, porém como encontrar, como chegar até ele. Bom, acho que estamos na era da economia de informação, dos links de acesso restrito, cracks e da deepweb. Nada mais justo do que ler as postagens de alguns amigos que escrevem nas redes sociais e que talvez nunca cheguem a compilar esses textos em forma de livro. Um amigo me apontou a existência de um cineasta que está passando por uma transformação ideológica bizarra (virou Bolsominion depois de anos de produção mezzo-esquerda). Acho que as postagens de facebook e twitter (do antes e depois) de caras como esse estariam no livro de história que eu queria que meus sobrinhos lessem em 2045.