Mayara Zucheli é bacharel em letras pela Universidade de São Paulo e editora na Editora Martin Claret.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa com duas coisas essenciais: banho e café preto. Acordo por volta das 6h00 e já coloco a cafeteira para trabalhar. Muito da minha rotina matinal envolve o meu gato, pois assim que eu acordo ele quer comida e afago. A manhã é bem corrida, eu entro na editora bem cedo, por volta das 8h00, então não tenho tempo de pegar um sol, tomar um café mais elaborado como gostaria ou até mesmo ler um jornal, me atualizo sobre as notícias via Twitter durante o caminho para o trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu funciono muito melhor na parte da manhã. Já acordo com gás total para lidar com todas as questões do trabalho e as pessoais também. Costumo dizer que sou uma “morning person”, o mau humor não faz parte da minha manhã. Tudo que eu preciso escrever, seja para o trabalho ou para mim, eu faço na parte da manhã. Sinto que minhas ideias fluem muito melhor. E a minha preparação básica é uma bebida quente, não importa o clima.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho uma meta diária, mas procuro escrever todos os dias, nem que seja um parágrafo. Gosto muito de escrever contos e às vezes publico-os no Medium.
Acho que escrever todos os dias mantém a minha escrita afiada. Sempre que eu deixo de escrever por alguns dias sinto que vou ficando enferrujada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Costumo pesquisar durante a escrita. O último texto que publiquei no Medium falava sobre beisebol. Eu tinha a ideia clara de falar sobre o Ebbets Field, um estádio de beisebol que ficava no Brooklyn, em Nova York, mas eu não sabia muita coisa sobre sua história. À medida que fui desenvolvendo o conto eu fui pesquisando e adicionando as informações ao meu texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Minha escrita trava sempre! Isso para mim é super normal. Eu costumo deixar os meus textos de molho por algumas horas e a inspiração quase sempre volta. Eu fico relendo e relendo o trecho que escrevi e as ideias costumam florescer. Se o texto trava muito mesmo e não desenrola de jeito nenhum eu costumo abandoná-lo, pois se está tão difícil de fluir é por que aquela história não era para mim.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes. Muitas mesmo! Eu gosto de compartilhar com as pessoas que mais confio. Os textos do trabalho eu compartilho com uma colega querida e os textos pessoais eu mostro para a minha irmã e para o meu marido. Eles dão opiniões sinceras e, quase sempre, enxergam oportunidades textuais que eu deixei passar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gostaria de dizer que uso a velha Smith Corona para escrever, mas a verdade é que tudo que eu escrevo é no computador e, às vezes, nas notas do celular. Faz um tempão que não sento, pego uma caneta e escrevo, o que é uma pena. Em época de faculdade eu escrevia tudo a mão, era muito mais fácil ir para a aula com um caderninho e uma caneta. Mas com o trabalho a tela do computador está lá, sempre ligada, então já abro o Word e escrevo lá mesmo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A minha criatividade brota da leitura. Quanto mais eu leio mais eu escrevo. Parece clichê, mas é a pura verdade. Eu gosto muito de escrever coisas mundanas, sobre as pessoas, suas situações inusitadas, lugares diferentes. Gosto muito de ler Paul Auster. Acho que a sua escrita é sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Ele escreve o tipo de literatura que eu gosto de escrever e isso me inspira.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Tenho mais paciência para trabalhar minhas ideias no texto. Antigamente descartava qualquer parágrafo muito rápido só por que, à primeira vista, ele não pareceria tomar forma. Hoje eu releio muito e muitas vezes uma ideia perdida, que antigamente eu teria descartado, torna-se a melhor saída para o texto.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero muito, um dia, escrever um livro de contos. Ao estilo Paul Auster. Um livro com contos curtos sobre a vida nua e crua.
Gostaria de ler um livro que explicasse a vida após a morte como ela realmente é, um livro que fosse a prova cabal do que encontraremos depois da nossa passagem para o outro lado. Um livro que atestasse ou refutasse todas as religiões.
Há uma obra existente que eu quero muito ler e estou criando coragem para encará-la, não pelo seu tamanho, mas pela sua importância e complexidade: Ulisses de James Joyce.