Max Moreno é escritor e redator publicitário.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho o hábito de acordar cedo, gosto de me antecipar ao sol. Entretanto, não posso considerar que haja uma rotina, já que às vezes assisto ao noticiário matinal na TV, às vezes confiro as mensagens de e-mail da noite anterior, às vezes escrevo. Quando raramente opto por este último sempre me surpreendo com as possibilidades que o texto adquire, embora muitas vezes tenha que reescrevê-lo. Creio que isso ocorra porque uma mente descansada “viaja” mais. O problema é que nem sempre essas viagens levam a um lugar “construtivo”, do ponto de vista crítico.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou, e admito isso sem nenhum problema, um escritor de hábitos noturnos. À noite, tudo funciona melhor para mim. Os ruídos, tão comuns durante o dia, tornam-se mais aceitáveis quando a escuridão chega, e à medida que a madrugada avança, se você não for um sujeito avesso à vira-latas, um latido aqui, outro ali não há de conseguir tirá-lo dos trilhos da escrita. Quanto a um ritual, a única coisa que gosto de fazer é ler o último capítulo escrito, embora, em minha opinião isso não deva ser considerado um ritual e sim um “cuidado” para que não haja perda no ritmo da trama.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sobre esse assunto, percebo que não existe um consenso entre os escritores. Há quem diga que se deva escrever todo santo dia, é o caso do mestre do terror Stephen King. Por outro lado, conheço grandes escritores contemporâneos que afirmam não haver problema algum em se permitir um ou outro dia de descanso, mesmo porque quando se está exausto o rendimento não é satisfatório e o resultado pode ser desastroso. Pelo menos para mim, não faz sentido escrever por pura “obrigação”, é preciso bem mais que isso. Também não sou adepto a uma meta de escrita, prefiro sempre concluir o meu impulso criativo, independentemente de quantas páginas (ou laudas) serão escritas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Para ser sincero, quando começo a escrever um livro, traço dois pontos de apoio que me guiarão pela trama: como a história começa e onde ela vai me levar. O trajeto entre esses dois pontos é regado de infinitas possibilidades. Quase sempre o desfecho da trama acaba sendo bem diferente do que eu havia idealizado inicialmente. Há, sem dúvida, uma forte influência dos personagens que aos poucos povoam o enredo e ditam as regras do jogo. À media que a trama avança, faço as pesquisas necessárias, mas nunca antes de começar o livro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas de escrita devem ser encaradas com naturalidade por todo escritor. Mais cedo ou mais tarde elas aparecem, mas isso não pode ser nenhum “bicho-papão” para o desenvolvimento da sua obra. Só há uma maneira de resolver o problema da trava: escrevendo. Quando você chega a um ponto (da trama) que parece um beco sem saída, tudo o que tem a fazer é considerar e testar os caminhos possíveis (por mais que pareçam absurdos) para o texto. A minha tática é sempre dar um ou dois passos atrás, depois opto por novas direções. Sobre não atender às expectativas, desde que você coloque a “sua verdade” no que escreve, não há porque temer. Ainda não tive nenhuma experiência com projetos longos. Meus textos, de modo geral, têm menos de trezentas páginas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes. Muitas vezes, mesmo. O meu livro mais recente “As paredes eram brancas” foi revisado seis vezes. Tenho certa preocupação com a qualidade do texto final, mas creio que isso seja normal. Sim, gosto de submeter os meus textos a alguém de fora do meu convívio (portanto, imparcial), que não hesitará em apontar as eventuais fragilidades da obra. Vejo isso como algo saudável na vida de todo escritor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevi o meu primeiro livro em 2013, portanto não sou da era das máquinas de escrever ou da escrita à mão. Escrevo tudo utilizando as ferramentas tecnológicas disponíveis no computador. Não tenho nenhum problema quanto a isso, até porque a minha formação acadêmica é em Marketing, o que sempre me exigiu alguma habilidade com o teclado (do computador) na minha rotina de redator publicitário.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não é uma pergunta fácil de responder. As ideias surgem num “estalo”. Às vezes você está na fila do banco e tem uma ideia para um conto, ou acorda no meio da noite com o roteiro do seu próximo romance. É muito louco isso, mas comigo, é assim que funciona. Sobre se manter criativo, a leitura é fundamental. Isso é uma unanimidade universal para quem quer levar o ofício a sério. Só escreve bem que lê bem, ou melhor, quem lê muito, quem lê de tudo um pouco, sem discriminação. Eu leio até bula de remédio, só para você ter uma ideia (risos).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Há inevitavelmente uma consciência (sobre a escrita) que você só adquire ao longo dos anos, mas isso só acontece com muito estudo e dedicação. Por mais que você se sinta preparado para escrever o seu primeiro livro, dez anos depois, vai perceber que tudo poderia ter sido diferente, mais creio que isso seja natural. Hoje eu posso optar (de forma consciente) qual técnica ou ferramenta literária usarei para cada texto que escrevo. Seu eu pudesse voltar no tempo eu diria a mim mesmo: “Rapaz, você ainda não viu nada”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria muito de escrever um livro só de contos, mas ainda não levei essa ideia adiante. Já participei de algumas coletâneas e tive contos publicados em sites e revistas literárias, mas devo, no futuro, lançar um livro de contos só meu.
Sobre o livro que “ainda não existe”, bem, nunca parei para pensar sobre isso.