Matteo Giuli é pesquisador na Università di Siena, doutor em História Moderna pela Università di Pisa e pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia de maneira um pouco preguiçosa e, normalmente, não muito cedo (os motivos são explicados na resposta seguinte). Enquanto tomo um café da manhã bastante rápido, ligo meu smartphone para ler um pouco os meus jornais de referência, ver meus e-mails e controlar as atualizações no meu facebook (a única rede social que uso e que me serve, sobretudo, como meio de informação). De manhã fico curioso para saber as eventuais novidades que aconteceram no mundo enquanto eu estava dormindo. Alguns anos atrás, tomava meu café assistindo brevemente aos principais debates políticos que passavam na televisão (já pela manhã!), mas é um hábito que mudei, talvez porque ultimamente a política está me apaixonando menos do que um tempo atrás.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho nenhum ritual específico. Contudo, eu percebo que trabalho melhor no final do dia, a partir do pôr do sol: o crepúsculo me relaxa. É quando a luz e o barulho do dia dão lugar, pouco a pouco, às sombras e ao silêncio da noite que eu tenho a impressão de ficar mais concentrado e de trabalhar com mais vontade; também de ter as melhores idéias, de fazer as reflexões mais profundas. Não é algo racional, nem planejado, mas apenas um estado do meu espírito, quase uma sensação de paz interior, que provavelmente comecei a perceber mais e apreciar nos últimos dez anos. O final da tarde e a noite me trazem um “mistério de atmosfera que é difícil explicar” – como diz uma velha música de um cantor italiano. É por isso que de manhã, normalmente, não acordo muito cedo, deitando tarde da noite. As mesmas sensações envolvem a minha relação para com as estações do ano, pois é no outono em que parece que trabalho melhor; e o outono pode ser considerado – pelo menos no hemisfério norte do mundo, onde nasci e onde recentemente voltei a morar – a fase crepuscular do ano.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Para mim é melhor escrever em determinados períodos concentrados e circunscritos. Isso me ajuda a manter uma atenção constante, diária, sobre o que devo e quero escrever. Não posso dizer que eu tenha uma meta precisa de escrita, mas, nesses períodos, tento escrever o máximo possível um dia depois do outro. Muitas vezes a escrita depende da inspiração, das ideias e das forças do momento, portanto nem sempre é possível quantificá-la ou prevê-la.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começar a escrita de um texto nem sempre é fácil; talvez, pelo contrário, seja a fase mais complicada. Depois de uma pesquisa rigorosa, depois de uma ampla coleção de fontes e de uma cuidadosa seleção das informações, o momento de concretizar as ideias e de dar forma escrita a intuições e reflexões pode criar também certo desespero, ou certa angústia: é certamente um momento delicado, não simples nem de solução imediata. Claro, um pequeno esquema gráfico das ideias, uma tabela dos assuntos ou um índice temático de referência podem ajudar, mas normalmente as primeiras páginas ficam as mais complicadas. Em seguida – pelo menos para mim – o discurso toma consistência, o conteúdo vai problematizando-se e assim o texto se desenvolve de forma cada vez mais incisiva: a escrita vira quase automática, ou pelo menos avança de forma mais rápida.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que, nestes casos, a melhor solução seja a concentração, a determinação e certamente a reflexão sobre o que estamos fazendo. É quase um desafio consigo mesmo. Nestes casos, o importante é fazer de forma que sentimentos normais como a ansiedade ou o medo possam transformar-se em fontes de energia positiva, de força propulsiva: o medo como estímulo para fazer ainda melhor as coisas. No fim das contas, quem escreve é aquele que decide, pois é ele que maneja e domina os assuntos dos quais trata; portanto é ele que tem o poder de controlar seu próprio trabalho e de autocontrolar-se. Não é fácil, mas acho que essa seja a impostação mental mais certa para lidar com travas e prazos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Costumo ler e reler meus textos várias vezes, pelo menos três ou quatro: não apenas para aperfeiçoar ou problematizar mais o conteúdo, mas também para cuidar da forma estética da minha escrita, ou seja, para eliminar a eventual presença de erros de digitação, pequenas negligências involuntárias ou mínimas imprecisões estilísticas. Pelo contrário, normalmente, não mostro meus trabalhos para outros antes de publicá-los, a menos que eles não sejam em inglês ou em português, para os quais peço ajuda linguística à minha esposa.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quase sempre escrevo alguns esquemas à mão. É algo que me ajuda a fixar melhor as ideias, a concretizá-las com mais força. Trata-se de esquemas (de índices esquemáticos, mas já bem fundamentados) que – como já disse – ao meu ver ajudam na construção inicial do texto, assim como na reflexão crítica sobre os assuntos tratados.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minha ideias vêm da pesquisa, ou seja, dos documentos de arquivo (sou historiador) e da bibliografia existente. A pesquisa é a origem do meu trabalho e a substância que o legitima. A leitura crítica das fontes documentais e da bibliografia mais recente me permite reconstruir, de forma o mais rigorosa possível, o contexto científico dentro do qual colocar o meu trabalho e fazê-lo dialogar com os que já existem. Acredito que a escrita seja o produto de um confronto com o que os outros já fizeram, o resultado de um diálogo constante com o trabalho dos outros.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Provavelmente o meu estilo melhorou, a forma refinou-se. Além disso, ao longo dos anos, eu adquiri mais segurança e também um pouco de saudável rigor na seleção e na análise das fontes, assim como na redação do texto. Tudo isso é normal, é o fruto da experiência. Se eu pudesse voltar à minha tese, tentaria ser um pouco menos prolixo. Acho, de verdade, que a capacidade de síntese seja uma qualidade fundamental na escrita. O problema é que, como meu trabalho de pesquisa muitas vezes é enorme, eu não quero perder nada durante a fase de redação do texto final e, portanto, pode acontecer que as informações que ofereço ao leitor sejam mais detalhadas do que o necessário. Talvez tudo isso possa ser também o preço que eu tenha que pagar por minha vocação metodológica na seleção e na análise das fontes, que é extensiva por quantidade e intensiva por qualidade, de tipo micro-analítico; e contudo, como os latinos diziam, melius est abundare quam deficere.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Na realidade, antes de pensar em projetos (de pesquisa e/ou de escrita) que ainda não comecei, deveria pensar nos vários projetos que já comecei e desenvolvi, mas que ainda não terminei nem concretizei, do ponto de vista editorial, como eu gostaria e como eles mereceriam. Quanto à segunda parte da pergunta, mais que falar do livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe, seria mais lógico que eu falasse dos muitos livros que já existem faz bastante tempo e que eu ainda não li. Deles poderia fornecer uma lista que seria vergonhosamente longa.