Matheus Ferraz é um escritor mineiro com trabalhos publicados em português, inglês e italiano.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
A manhã é um bom período para começar a analisar as ideias que se teve no dia anterior. Depois de uma boa noite de sono, as coisas parecem mais claras. Eu nunca anoto ideias, prefiro deixá-las soltas na minha mente, e se pela manhã elas ainda estão lá, quer dizer que valem a pena.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor depois do almoço. Depois dessa refeição, eu gosto de sentar e produzir o máximo possível por umas duas horas, então tomar uma xícara de café e completar os trabalhos do dia.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
É necessário escrever todo dia, nem que seja um pouco. Eu tenho um sistema de círculos e quadrados. Se meu objetivo é escrever um livro de cinquenta mil palavras, imprimo uma folha com uma fileira de cinquenta círculos sobre uma de cinquenta quadrados. Cada círculo que marco representa mil palavras e cada quadrado representa um dia. É necessário fazer mil palavras todo dia, e não é acumulativo. Ou seja, mesmo se estou bem a frente do meu cronograma, não posso tirar um dia sem cumprir aquelas mil palavras.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O segredo é começar. A única forma de dizer se uma ideia é boa é colocando-a na tela do computador. Você pode ter tramas maravilhosas na sua mente que não funcionam na prática. Meu método favorito é começar um livro com uma cena, e desenvolver a partir daí.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A melhor forma é sendo rigoroso comigo mesmo. Eu me pressiono ao máximo para cumprir a meta diária. É necessário ter um manuscrito falho para corrigir, porque é impossível bolar um livro perfeito na primeira versão. A melhor forma de lidar com o medo é ignorá-lo e continuar até o final. Parece covarde, mas funciona que é uma beleza!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Há a primeira versão, onde conto a história pra mim mesmo. Depois disso, é necessário dar alguns dias para a cabeça esfriar, voltar atrás e corrigir todos os erros. Só então mostro o manuscrito para meus leitores beta, que fazem críticas e sugestões. E depois disso vem o trabalho do editor, que é um profissional que enxuga o texto e aponta todas as falhas. Essa parte do processo é desafiadora, porque é quando você percebe que o livro que você julgava perfeito e redondinho está na verdade cheio de erros grosseiros. A única forma de vencer essa etapa é engolir seu ego e aceitar as mudanças propostas pelo editor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já escrevi muito em máquina, mas hoje uso computador. É importantíssimo fazer backup do seu texto. A pior sensação do mundo é perder semanas de trabalho por causa de uma falha tecnológica.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não dá pra escapar do clichê: você só pode ser escritor se ler muito. Dessas leituras, surgem ideias. Acho que o princípio da coisa é sempre juntar duas coisas aparentemente sem relação, mas que juntas podem formar algo novo. Ideias dissonantes colocadas juntas dão origem a tramas incríveis.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A melhor coisa é que deixei de ser tão arrogante. Antes acreditava que escritores eram criaturas especiais, anjos na Terra, e que deveriam ser reverenciados como tais. Hoje sei que é um trabalho como qualquer outro. Escritores são pessoas comuns, nossos vizinhos e amigos. Há milhões deles por aí, e você nunca vai fazer parte da comunidade de escrita se ficar se colocando num pedestal.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever um livro passado no mundo do cinema italiano de gênero dos anos 1970. É algo que planejo fazer em breve. No momento estou terminando um livro para minha editora em Londres, e já quero emendar esse outro projeto o mais rápido possível.