Mary Del Priore é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Muito cedo. Moro na roça, acordo com as galinhas. Às seis da manhã, já estou na cozinha fazendo café. A partir das sete, estou no computador, escrevendo. Minhas manhãs são muito silenciosas, só com o canto dos pássaros. Isso ajuda a concentração.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Tenho mais energia, pela manhã. Mas, trabalho à tarde, também. Escrevo menos. Leio muito e, sobretudo, organizo o material que irei trabalhar no dia seguinte. Ao deixar a mesa de trabalho por volta das 17 horas, tudo está organizado para o próximo dia.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tive, quando escrevia teses. Na época, eram 5 a seis páginas por dia. Não ficava com medo da página branca. Ia colocando as informações, para depois dar consistência, aprofundar e refletir. Hoje, com os livros que escrevo estou mais habituada a conjugar pesquisa e escrita e posso passar de cinco a seis horas escrevendo, sem me chatear.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou acusada de “positivista” pelos meus pares, mas, acredito que tudo nasce da documentação. Conhecer bem as informações extraídas do documento, os autores e as circunstâncias da fabricação do mesmo são diretrizes no meu trabalho. Depois vou cotejando os documentos com a historiografia e alimentando minha interpretação com aquela feita por meus antecessores, colegas e contemporâneos. Bebo muito nas teses de jovens historiadores que estão cada vez melhores.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Gosto tanto do que faço, que é difícil ter esse sentimento. Sinto cansaço, isso, sim. Por vezes, cansaço de um assunto. Ou da leitura de certos autores que escrevem mal, confuso e difícil. Aí paro tudo. Vou assistir NETFLIX!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso bastante. Como gosto de escrever, vou procurando ritmo. Música no texto. Não mostro para ninguém, pois não tenho para quem mostrar, salvo o editor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Péssima. Sou “cavernícula”, como dizia Nelson Rodrigues. Já perdi livros inteiros por não salvá-los corretamente. Meus arquivos são um labirinto. Neles me perco.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A maior parte nasce dos arquivos. Como estou sempre pesquisando – agora, mais pela internet, graças a Deus – encontro personagens. Posso até dizer que os “ouço”, quando manuseio processos ou correspondência.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Sei que nunca atingirei a perfeição, mas, me esforço para ser sempre melhor. Meu maior desejo é que meu leitor sinta-se no sofá, conversando com meus personagens.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O próximo que eu for escrever…