Marra Signoreli é poeta e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Goiás.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Gosto de dar aula de manhã; é o momento em que minha cabeça funciona melhor. Nos dias em que vou dar aula, tomo café, não como nada (se ainda sobrar um bolo da tarde anterior, como um pedaço) e sigo para a escola. Se não preciso dar aula, decido o que vou fazer depois do café.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor de manhã, que é quando prefiro dar aula. Não tenho nenhum ritual para escrever, senão talvez o objetivo de escrever todos os dias.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Prometi a mim mesmo escrever diariamente pelo menos um poema em forma fixa (pode ser pastiche, não importa). Isso não é difícil e é menos que o suficiente, mas é uma boa ignição. Nem sempre cumpro a promessa e, na verdade, raramente tenho vontade de escrever. É uma disciplina.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não é difícil começar a escrever. Se você tem vários modelos textuais na cabeça e tem o hábito de treinar com eles, então como pode ser difícil utilizá-los quando necessário? O que usualmente se chama de “inspiração” é ânimo, desejo, e se você exerce um ofício apenas quando tem desejo, nunca trabalhará direito. O hábito facilita as coisas mais medonhas. Eu não tenho o hábito de compor música, embora já tenha estudado composição e tenha peças apresentadas em recitais; quando componho, portanto, mesmo inspirado, mesmo cheio de ânimo e de boas ideias, também me encontro cheio de dificuldades.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que a questão das travas está respondida acima. A procrastinação também se resolve com o hábito, mas não vejo outra forma de lidar com ela, quando ela já aconteceu, senão correndo atrás do prejuízo. Quanto a corresponder a expectativas, de quem? Se for de algum mané, que se dane.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não tem um limite de vezes, mas gosto de me ver livre deles logo. Apesar disso, meu último livro está em revisão há milênios. Sempre mostro o que escrevo ao poeta Wladimir Saldanha, que tem me acompanhado desde 2016. Além dele, a qualquer outra pessoa que tenha minha confiança mais a paciência de me ler e aconselhar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Adoro o computador e o celular, são eles que me odeiam. Meu teclado sempre quebra e o touch do meu celular foi possuído por um fantasma. Por esse motivo, algumas coisas são forçosamente rascunhadas no papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Segredo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria um monte de coisas, mas principalmente o seguinte: “ninguém se importa se você escreve poesia, simplesmente escreva e não encha o saco”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há uma série de livros inexistentes, os quais eu adoraria ler, mas que não só não existem como eu nunca teria a capacidade de escrevê-los. Um dia, um amigo me perguntou por que não escrevo uma epopeia contando a história da Igreja do seu nascimento até os dias de hoje. Está aí uma coisa infinitamente acima de minhas capacidades, mas que eu leria com muito gosto caso alguém fizesse. Já os projetos ao meu alcance estão guardados para quando eu me sentir pronto para realizá-los.