Mário André Machado Cabral é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Direito Econômico pela USP e advogado.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quando dou aula no primeiro horário da manhã, acordo antes das 7h, tomo café rapidamente, pego o metrô e vou ao Mackenzie. Quando não tenho aula, acordo um pouco mais tarde e vou ao escritório por volta das 10h.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Noite/madrugada. Não tenho ritual de preparação. Sento e escrevo. De preferência num local silencioso. Gosto muito de escrever e estudar em bibliotecas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende da urgência. Se preciso terminar um texto que tem prazo, escrevo sempre que dá, ou seja, arrumo espaço no meu dia para escrever, entre as atividades docentes e advocatícias. À noite e pela madrugada adentro, eu produzo mais e avanço na escrita.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu começo fazendo a divisão do texto em seções. Dentro das seções eu pontuo os temas que quero tratar. Vou desenvolvendo cada tema dentro das seções, e o texto vai ganhando corpo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sou bem prático nesse aspecto. Eu lido grifando em amarelo e deixando para desenvolver depois um ponto ou outro em que travei. É importante que a trava em um momento específico do texto não atrapalhe o desenvolvimento do texto como um todo. Um tópico específico pode ter gerado uma trava, mas há outros tópicos do texto que podem ir sendo desenvolvidos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso algumas vezes. Eu gosto de terminar e não reler o texto por pelo menos um dia. Em seguida, faço uma revisão final antes de compartilhá-lo.
Tenho o privilégio de contar com, no mínimo, dois excelentes críticos para meus textos: meu irmão, que é professor de direito na Universidade Federal do Ceará, e meu assistente acadêmico, que é mestrando em direito na USP. Além deles, a depender do tema do trabalho, compartilho com alguns colegas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tento fazer com que minha relação com a tecnologia seja útil ao meu trabalho. Contudo, é uma relação contraditória: ao mesmo tempo em que me interesso pelos impactos jurídicos e econômicos das novas tecnologias (uma das minhas disciplinas no Mackenzie é Direito da Inovação), adoro papel. Na leitura, sempre prefiro o físico ao digital.
Sempre escrevo meus textos no computador. Antes, por vezes, rabisco algumas ideias no papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Normalmente minhas ideias se desenvolvem a partir da leitura de textos acadêmicos e do noticiário, dos diálogos com colegas, da preparação das aulas e das discussões em sala de aula.
Os hábitos intelectuais diários que cultivo são: ler jornais e revistas nacionais e estrangeiros, tentar me manter atualizado em relação à literatura e à jurisprudência produzida na minha área e, especialmente, ler textos não-jurídicos (econômicos, sociológicos, literários, etc.). Fazer exercícios físicos e se alimentar bem também podem ajudar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
O que mudou foi que aprendi a trabalhar com o tempo que tenho. Mais atribuições profissionais implicam menos tempo para a escrita.
Há duas coisas que julgo importantes no processo de escrita: (i) manter-se lendo e escrevendo sempre e (ii) ter o que dizer, notadamente em tempos de exigências de produtivismo acadêmico.
Comecei as pesquisas de doutorado muito novo, com 22 anos, e defendi a tese aos 26. Se pudesse voltar à escrita da minha tese, diria a mim mesmo que a tese é só um passo inicial na trajetória acadêmica. Quanto menos problemas criarmos para desenvolvê-la e finalizá-la, melhor. Não precisamos fazer disso um processo sofrido e traumático. Pode ser um caminho de satisfação intelectual e aprendizado.