Mariliz Pereira Jorge é jornalista e roteirista de TV.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho rotina. Os meus dias são muito diferentes porque eu me divido em três trabalhos diferentes. Então, depende da minha agenda de compromissos. Também não acordo todos os dias no mesmo horário porque trabalho até tarde algumas vezes por semana. Na verdade, adoraria ter mais rotina, a vida seria mais tranquila.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depende. Eu preciso estar descansada, preciso ter dormido ao menos sete horas de sono, o que quase sempre é um luxo. Então, se eu consigo dormir cedo, posso acordar às 6h, 7h e rendo muito bem. Assim como rendo bem tarde da noite, se estiver descansada. O que eu realmente preciso é de silencio. Tenho um certo ritual, checo e-mails, leio algumas notícias, passeio nas redes sociais, como se estivesse dando um giro antes de me concentrar. Gosto de pegar um chá ou café também, e água. Muitas vezes começo a ficar com dor de cabeça e percebo que estou há horas sem me hidratar. O cérebro pifa sem água.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quase todos os dias por conta de compromissos de trabalho. Agora que estou escrevendo um livro tenho reservado os finais de semana apenas para isso. Nesse caso, as metas são grandes, 10 mil, 15 mil caracteres num dia, mas às vezes não chego à cinco mil.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É um sofrimento. Sempre. Mesmo depois de anos fazendo a mesma coisa, eu ainda tenho uma dificuldade enorme para começar. O começo me congela. Caio no erro de tentar encontrar o lead perfeito e perco horas assim. O ideal seria sair escrevendo e moldar o texto conforme escrevo, mas caio nas mesmas armadilhas quase sempre. Mas quando consigo sair do primeiro ou segundo parágrafo sou quase sempre muito rápida porque já tenho toda a pesquisa, todas as coisas que quero dizer na cabeça.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido mal, sou refém da procrastinação, do medo e da ansiedade. Sempre acho que não vou conseguir dizer o que quero mesmo que as ideias estejam claras na cabeça. Porque elas estão lá, mas estão numa maçaroca que precisa ser desatada. Normalmente o que me destrava são os prazos, que estão sempre vencendo. Eu quero mudar isso, mas ainda não consegui.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Isso depende tanto. Quando consigo escrever com antecedência, reviso várias vezes. Quando o fechamento é apertado, reviso o que é possível. Meu marido é meu leitor mais fiel, ele lê quase tudo o que escrevo antes de ser publicado.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou total dependente de tecnologia. Perdi a habilidade de fazer anotações com caneta e papel. Minha letra, que era razoável, ficou péssima pela falta de hábito de escrever à mão. Uma pena.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De vários lugares. De conversas, de coisas que vejo na rua, de filmes, séries, de posts nas redes sociais. É um desafio, às vezes não tenho vontade de escrever sobre nada, justamente por causa da avalanche de informações. Silêncio e desconexão podem ser bastantes inspiradores.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mais mudou fui eu. Sou diferente do que era há dez anos ou mesmo de como era há cinco anos. É um processo natural de me conhecer melhor, de entender o que penso sobre as pessoas e sobre o mundo. Eu tenho tido um pouco mais de cuidado em dizer algumas coisas, não que não vá dizê-las, mas a forma como faço isso talvez tenha ficado um pouco mais elegante. Isso não quer dizer que eu tenha mudado meu estilo. É o mesmo, só um pouco mais lapidado.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O meu único projeto é um livro que existe como ideia há 10 anos e só agora está sendo escrito. Meu foco é nele e, se tudo der certo, devo terminar ainda este ano. Tenho uma pilha de livros que quero ler e não consigo por falta de tempo. Não consigo imaginar um livro que eu gostaria de ler e que ainda não exista. Quando pensar sobre isso talvez eu mesma o escreva.