Mariana Vieira é escritora e jurista, autora de “Poética dos Absurdos”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Além de escritora sou também jurista e idealizadora da Linho & Letras (Arte em Versos), onde expresso as minhas obras poéticas em diversos itens (estandartes, bolsas, bastidores) que são adquiridos em uma loja virtual no Instagram e em revendedores autorizados.
Com múltiplas atividades, preciso quase sempre acordar cedo (por volta das 5:30h) e destinar os dias úteis para as atividades jurídicas, bem como para os estudos relacionados à minha área de atuação.
Nos finais de semana e feriados dedico o meu tempo aos projetos artísticos, sem prejuízo das insônias criativas que por vezes me sequestram em qualquer madrugada, indistintamente. Sobre estas não tenho controle e nem ouso resistir. Até porque, sabe-se, a criatividade tem voz imperativa e a desobediência do seu comando pode representar a perda de uma grande ideia, de uma linda poesia ou mesmo de uma música inesquecível, o que seria imperdoável para mim.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Prefiro a solidão e o silêncio noturnos. Há uma espécie de cumplicidade ali. Um espaço lúdico para devaneios onde tudo se permite, onde nada é censurado. A subjetividade da noite e a sua luz difusa e dúbia são ideais para as conjecturas poéticas, que precisam desta atmosfera para o seu franco desenvolvimento.
Música, água, café, chá, caneta e muitos papeis. Eis os elementos da alquimia poética para mim.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não costumo estabelecer metas ou tarefas para o processo criativo.
Escrevo por necessidade neural, psíquica, emocional.
Escrevo para colocar no papel o tamanho do que sinto e do que percebo no outro, nas histórias que ouço e que me afetam de alguma forma.
O processo de criação não aceita arreios, esporas ou cabrestos. Precisa da liberdade para se estabelecer e ser reconhecido de modo personalíssimo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrever sempre foi um ato muito natural para mim.
Quando me encomendam algo (letra de música, poesia, contos e afins) em geral incorporo a ideia, se ela me atravessa. Se há uma compreensão e uma identificação com a demanda a escrita flui, porque é algo muito espontâneo, criado a partir de uma reflexão.
É como se, das cenas que realizo no meu imaginário, houvesse uma transcrição automática de versos que vão aos poucos se aglutinando em minha mente e que me fazem correr para escrever.
A impressão que tenho é que as palavras já existem em algum lugar e eu apenas capto e vou acomodando na folha, como um agricultor que colhe a sua safra e faz os seus estoques.
Eu leio sobre tudo e ouço muita música brasileira. Salvo nos casos de criação de personagens e ambientação de lugares, não costumo pesquisar algo específico para escrever. Prefiro observar o que vejo e sentir o que há em volta para depois elaborar o conto, a poesia, a crônica dentre outras produções.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando acontece alguma trava eu simplesmente paro. As travas têm muito a dizer sobre a imaturidade do texto e eu costumo interpretar isso como um sinal de que a hora do seu nascimento ainda não chegou.
Por vezes aquele texto fica ali, guardado, e vai reaparecer em outro momento para completar uma outra ideia.
Por ser tão necessário para mim, eu me realizo só em poder escrever uma história no papel. Não há espaço para frustrações ou expectativas porque não sei fazer diferente. Tudo o que tenho para oferecer ao leitor é o que está ali, cru.
Em razão disso, fico muito feliz quando alguém se identifica e encontra voz naquilo que escrevo, mas não posso me cobrar ou esperar nada mais além disso.
Os projetos longos são uma grande dificuldade no momento. Tenho dois romances em andamento e sempre que posso produzo os seus capítulos, mas a poesia e os textos mais curtos têm consumido bastante tempo em razão da alta demanda.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho amigos preciosos aos quais sempre submeto os meus textos. Depois, reviso todos eles até sentir que já estão prontos.
Mas há momentos em que escrevo algo e do jeito que escrevo fica ali, na folha, preso como se fosse o grito de uma flor açoitada no muro.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A minha relação com a tecnologia é de sobrevivência (risos). Costumo dizer que sou uma alma antiga e em razão disso os meus textos são todos manuscritos previamente. Muito tempo depois são digitados e formatados, com as indumentárias devidas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As minhas idéias vêm quase sempre a partir do contato com o outro e da observação. Das reflexões a partir de sessões de análise, por exemplo. Em razão disso, o contato e a troca com as pessoas e o aprimoramento da escuta é fundamental neste processo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa mudou.
Creio no amadurecimento como um processo infinito de transformação. Como diria uma grande amiga, é um “mato alto” onde você entra e não consegue mais sair.
Nesse sentido, ler um texto antigo e imaturo é tão sofrido quanto maravilhoso, porque nos confronta com a nossa evolução e com o nosso comprometimento com a excelência, apontando novos caminhos, novas direções.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São muitos projetos e quase todos, graças a Deus, iniciados ou mesmo terminados (livro infantil, livro de contos, livros de poesias e romances).
Existem ainda alguns projetos e que espero em breve poder revelar.
Gostaria de ler um romance sobre o adultério da Razão com o Acaso nos Jardins de Júpiter. Este livro existe? (risos)