Mariana Teixeira é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Depende bastante. Quando consigo ter uma ‘manhã ideal’, a primeira coisa que faço no dia é tomar meu café preto e ler algum texto curto, pelo celular mesmo. Tenho vários salvos no aparelho. São poemas, trechos de poemas, mensagens ligadas à meditação e coisas que me ajudam a lembrar quem eu sou e o motivo de estar aqui. É muito fácil se perder na dinâmica que a vida tomou hoje. Mas como disse, isso acontece quando tenho a ‘manhã ideal’. Na maior parte das vezes já levanto com pressa e saio para cumprir as funções – que não costumam ser ligadas à literatura.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não sei apontar um horário certo. Na verdade, não tenho qualquer ritual para escrever. Não sou disciplinada, do tipo que escolhe um momento para criar, para, senta e produz. Minha cabeça não funciona dessa forma. Tenho sempre um caderno na bolsa para acolher os poemas na hora que surgem e também uso bastante o bloco de notas do celular. Isso pode ser no metrô, no meio da rua, no trabalho, de madrugada…
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tenho fases em que escrevo muito todos os dias e outras que passo semanas inteiras sem produzir, ou produzindo pouco e coisas que descarto por não gostar. É cíclico.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu leio bastante, muito mais do que escrevo. Mas, apesar das referências e dos autores preferidos, não uso eles como base para fazer meus textos. O que escrevo é bastante íntimo, é meu olhar sobre as coisas. Tem mais a ver com o sentir do que com o racionalizar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas que ocorrem no dia a dia me chateiam um pouco. Porque, às vezes, uma ideia que me parece legal para um poema surge nos períodos em que estou travada, como comentei acima. É como saber que algo com potencial não vai acontecer por falta de ‘inspiração’. Sobre corresponder às expectativas, depende. Como qualquer pessoa que se expõe por meio da arte, é bom ter o trabalho reconhecido por pessoas que você admira. Mas isso não é um norte para mim. Eu preciso me sentir satisfeita comigo. E essa satisfação muitas vezes acontece simplesmente por dar vida a algo que sinto, por meio de um poema aparentemente bobo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tem textos que, assim que concluo, sinto que estão redondos. Quando a sensação é essa eu não fico analisando muito. Acho que isso pode acabar tirando a espontaneidade dos poemas. Já tem textos que escrevo e sinto que precisam maturar. Esses eu revisito depois de semanas ou meses. Se nesse segundo encontro eles não ‘batem’ mais, não insisto. Se percebo que realmente têm algo a dizer, dedico um tempo lapidando. De tudo que produzo, compartilho muito pouco com outras pessoas antes de publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre que posso, opto por usar o computador. Deixar os textos salvos e organizados agiliza muito, principalmente para quem não se dedica integralmente à literatura.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Vêm da minha observação de tudo. Não é algo pensado. Carrego um olhar sensível desde que me entendo por gente. Os detalhes das coisas, das pessoas e das situações costumam me dar ideias para meus poemas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O tempo e a prática amadurecem, tanto o autor como aquilo que escreve. Algo que mudou em mim ao longo dos anos foi o meu desapego em falar sobre certos assuntos que, definitivamente, não valem a pena. Tem situações, dores, amores e desamores que não valem um poema.
Se pudesse dar um conselho à jovem Mariana, seria: faça na sua intensidade, voe o seu voo e não se intimide com nada nem com ninguém.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns projetos em mente, mas não estou com pressa em realizá-los. No momento, me sinto satisfeita publicando meus livros de poesia. Respondendo a última pergunta, acredito que já deve ter livro sobre tudo (risos)!
Estou numa fase de ler mulheres. Acho que o mundo precisava ouvir mais as mulheres – e não só na literatura.