Maria Teresa Moreira é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou uma pessoa de fé. Começo meu dia com oração, meditação e contemplação, para dar o tom do dia e ficar muito aberta e atenta ao que vejo, ao que sinto, ao que sou. Mas não sou de ferro…preciso do meu café da manhã primeiro…! Logo após esse tempo de oração, emendo meu tempo de escrita, com o coração leve e atento.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para escrever, sem dúvida trabalho melhor pela manhã . Não era assim…meu melhor momento do dia costumava ser a noite… mas a rotina com os filhos, por anos a fio, mudou meu ritmo biológico…!
Tenho, sim, um ritual para escrever, que está ligado justamente a rotina da manhã . Café da manhã – oração – escrita. Escrever, para mim, é um exercício da alma, do profundo de mim.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias, ou pelo menos, praticamente todos. Fiz este compromisso comigo mesma, de não deixar de escrever. Com isso, tenho trabalhos não tão bons já que nem todos os dias me sai algo excepcional… Mas acredito na importância do exercício, do ato de escrever, que deixa o canal aberto para que venham palavras cheias de força e profundidade e amor! Não tenho meta que não seja a de escrever algo. Aí, vai da inspiração do dia.
Vale dizer que embora eu tenha este momento do dia separado especialmente para escrever, é bastante comum eu ter alguma ideia durante o restante do dia. Usualmente, não deixo estas oportunidades passarem! Tenho sempre papel a mão , embora eu use muito, hoje em dia, o próprio celular.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Nunca, nem em minha vida acadêmica, consegui fazer rascunhos. Pode parecer estranho, mas simplesmente não consigo! Vou escrevendo, as ideias já me saem mais ou menos organizadas para o papel. É claro que, sim, revejo e trabalho um texto quando sinto que há necessidade e, sim, há ocasiões em que necessito fazer pesquisa, mas em geral isso acontece durante o processo da escrita, e não antes.
Obviamente, como escrevo basicamente poesia, isso torna um pouco menos complicado. Já escrevi livro de educação , contos e crônicas , para os quais também não fiz um trabalho de pesquisa anterior ao ato de escrever. Talvez esta seja exatamente a razão para eu nunca ter escrito um romance…!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sou um bocado impetuosa no meu processo de escrita, ainda que tendo uma rotina diária. Mas realmente há dias, ou periodos, em que tenho muita dificuldade. O que tento fazer é não deixar de escrever, nunca. Isso me resolve o problema da procrastinação . Quanto a questão da preocupação em corresponder às expectativas, aí eu tenho um pouco mais de dificuldade. Hoje muito menos, mas mais no início da carreira, a insegurança era uma trava terrível. Hoje aceitei mais meus limites, meu estilo, deixei de achar que tinha que ser tão boa quanto fulana ou sicrano. Escrevo, como sou. E ponto. Mas isso veio com o tempo, com a maturidade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não posso dizer que tenho uma regra com relação a revisão . Sim, antes de uma publicação procuro revisar umas tantas vezes, claro. Acho terrível ler um texto com erros de português…ainda que eu NÃO possa dizer que nunca aconteceu comigo.
Também enviei os originais de meus três livros para serem lidos antes de serem publicados.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Desde meu primeiro livro, em 1992, sempre usei o computador. Hoje uso mais que tudo, um tablet. Mas como mencionei anteriormente, uso também o celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias eu as tenho a partir da vida do dia dia, do meu interior, da minha relação com as pessoas…..tudo o que sinto e vejo e escuto, em mim e nos outros, pode acabar sendo inspiração. Como já disse anteriormente, o fato de começar meu dia com oração, para mim, tem sido de uma importância fundamental. Sinto que me deixa focada, sintonizada, aberta, atenta…!
Às vezes também leio livros sobre criatividade, faço exercícios propostos neles. Mas não é comum.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Esta é uma pergunta interessantíssima!
Minha escrita mudou significativamente desde que comecei a escrever. Quando era mais jovem, cheia de certezas, foi muito natural escrever o livro sobre educação de filhos, assim como alguns artigos.
Hoje, mais madura e com a vida especialmente “esparramada”, foi muito natural minha escrita sair em forma de poemas, e geralmente em versos curtos, e poemas também geralmente nada longos… o que tem a ver demais com o momento que vivo agora: nunca muito tempo em lugar nenhum…
Mas não creio que teria algo a dizer a Maria Teresa dos primeiros textos…! Creio que fui aprendendo, o processo foi imporante, com seus erros e acertos, com seus diferentes nuances…!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho desejo de escrever um livro a mais maos, com paarticipacao de meus filhos e de meu marido. Todos eles escrevem muito bem, cada um com seu estilo, e creio queseria uma bela experiencia com um resultado muito interessante, com muito potencial para tocar a muitas pessoas diferentes. Creio que este projeto ainda vai se concretizar…!
Quanto ao livro que eu gostaria de ler mas ainda nao existe, nao consigo responder a essa questao simplesmente porque o livro certo sempre me encontra no momento exato. Se ele ainda nao foi escrito, creio que simplesmente e porque ainda não o necessitei…!