Maria Lorenci é escritora, integrante do coletivo feminista Marianas, que congrega escritoras do país todo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo as oito, corro com o trabalho de casa até as dez, corro para o trabalho as dez e quinze, fico no trabalho até as cinco da tarde.
Em que hora do dia você acha que trabalha melhor? Você tem um ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor à noite, após as dez horas, às vezes varo a madrugada escrevendo. Muitas vezes tenho alguma coisa pra beber junto: chá, café com leite, cerveja nos dias de calor, Coca-Cola. Muitas vezes escuto música, mas na maior parte das vezes, a TV é minha companhia.
Você escreve um pouco todo dia ou em períodos concentrados? Tem uma meta de escrita diária?
Períodos de passar dia e noite escrevendo se alternam com períodos sem escrever nem uma única linha. Deus me livre de ter metas pra escrever.
Como é seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vejo alguma coisa na internet, sonho, vejo algo na rua, acontece algo comigo ou com alguém que eu conheço, ou (na maioria das vezes) aleatoriamente, me vem uma inspiração. Começo a escrever. Se notar que preciso pra melhorar o texto, aí é que vou pra pesquisa. Normalmente o poema vem “meio pronto”, o texto se faz meio sozinho, não dá tempo de buscar referências formais. Depois de algum tempo é que noto que algumas delas aparecem. Ou não. E tudo bem, também.
Como você lida com as travas de escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Neste momento vivo uma trava. Desde janeiro me encontro assim. Os traumas que o momento político do país me trouxeram estão me deixando dessa forma. Não sou só eu. Muitos autores que conheço (principalmente os que escrevem intuitiva e organicamente) não estão conseguindo criar. Sinal dos tempos.
Mas eu não estresso. Respeito essa minha condição.
Se eu quiser destravar, costumo fazer um exercício simples: pego um lápis e um bolo de papel de rascunho e começo a escrever sem pensar em nada até que a mão doa. Largo sem ler. Faço isso novamente umas duas ou três vezes. Depois vou “garimpando” palavras, expressões e juntando, ainda sem nenhum critério específico, em parágrafos. Normalmente saio do transe assim. E sempre tem coisa boa nesses alfarrábios. É lindo ver como o cérebro da gente funciona…
Não tenho nem nunca tive expectativas como escritora. Assim é bom, pois tudo o que vem é lucro.
Ansiedade em trabalhos longos é uma coisa que mexeu comigo quando me meti a escrever um romance. Entrei numas de querer arrumar, pesquisar um bando de coisa, etc. Resultado: o que havia começado numa dessas sessões de destravamento que citei acima e era muito bom, virou um negócio “arrumadinho” que eu até escrevi até o fim, mas acabei por abandonar porque não gostei. Talvez eu ainda retome, mas não sei. Por enquanto, fico com a poesia. Um livro de poesia, mesmo que tenha 200, 300 páginas, é escrito com textos de uma, duas páginas no máximo, de cada vez. A gente nem sente que é longo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Normalmente não reviso as ideias; só a gramática, concordância, etc, e não mostro a ninguém específico.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Normalmente escrevo os rascunhos no word do meu smartphone e transfiro para um arquivo no computador.
De onde vem suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm do dia-a-dia, do que eu vejo, ouço, leio, sonho. Leio até bula de remédio, adoro cinema, escuto muita música (e presto atenção nas letras delas), desenho, pinto, danço e medito. Inspiração vem até em RPG, que eu jogo muito menos do que gostaria, pois considero um excelente filão de criatividade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita dos seus primeiros textos?
Mudou o meio: escrevia em papel, com caneta (dava um trabalho danado – e preguiça também) agora escrevo no smart ou no Laptop onde estiver. Até na praia, no ônibus, no mercado. Isso ampliou meu horizonte de observação. E a preguiça diminuiu.
Se eu pudesse voltar às minhas primeiras escritas, diria: “não se reprima, guria.”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de um livro meu traduzido (ou escrito) em inglês. Gostaria de levar adiante um projeto de “dançar poesias”, que já foi iniciado com uma amiga aqui de Curitiba, e está suspenso por pura falta de tempo. E queria um livro a respeito bem disso: de como linkar ritmos (tambores, dança, etc.) com poemas já escritos.