Marcus Borgón é escritor e torcedor inveterado da Ponte Preta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa tarde, porque costumo ir dormir 5h da manhã. Então, minha rotina é dormir a manhã quase inteira.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho nenhum ritual. Se houvesse a obrigatoriedade de criar um, provavelmente eu não escreveria. Pequenos hábitos que surgem naturalmente, eu ainda consigo lidar. Ritual não é para mim. Costumo trabalhar melhor de madrugada. Por causa do silêncio, principalmente.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados e numa regularidade totalmente caótica. Posso pegar um texto e virar dias, ou deixá-lo de lado por meses sem conclusão. Se eu tivesse um pouquinho de disciplina, certamente teria uma produção mais robusta. Porém, já sou obrigado a ter disciplina no trabalho, e a literatura é minha válvula de escape. Portanto, não caberia ser metódico também com isso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começo a escrever quando sinto que a ideia amadureceu na minha cabeça. Quando passo a vislumbrar uma estrutura lógica para a narrativa. Normalmente levo muito tempo escrevendo e reescrevendo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação e o atraso são coisas que fazem parte da minha vida desde sempre. Nasci com mais de nove meses. Já perdi a conta de quantas oportunidades, aviões e provas de concurso já perdi por não conseguir cumprir o horário. O medo de corresponder à (minha) expectativa é outra coisa assombrosa, mas que com o tempo aprendi a conviver melhor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes, quase obsessivamente. E continuo revisando, mesmo depois de publicado. E é incrível como sempre acabo encontrando palavras ou frases que me causam certo mal-estar. Mas como dizia Borges, a gente tem que se livrar do texto para não correr o risco de passar a vida corrigindo rascunho.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Acredito que a tecnologia veio para me impulsionar definitivamente para a escrita. Se tivesse que usar lápis ou caneta, é bem provável que eu desistisse no meio do caminho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Como não tenho uma imaginação muito fabular, minhas histórias costumam vir especialmente das minhas leituras. Mas também das minhas lembranças mais remotas e da minha observação do cotidiano. É importante saber do mundo dos livros, mas, imprescindível também, ler os livros do mundo.
Acho que os hábitos que mantenho são mais por questão de sobrevivência do que para manutenção da criatividade: ler, ir ao cinema, ouvir música, andar pelo centro da cidade, conversar com os amigos…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Com o tempo veio um aprimoramento da escrita, talvez a reboque de uma certa domesticação da ansiedade. Saber que é preciso cortar e reescrever várias vezes, e que a agonia da insatisfação é vencida pelo cansaço.
Eu diria: tenha calma, desligue o computador e pegue um livro.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Penso num romance epistolar. Já rascunhei algumas ideias, mas nenhuma ainda prosperou.
Já tenho uma lista imensa de livros para ler e que não conseguirei dar conta. Não vou aumentar a minha frustração pensando em livros que não existem.