Marcos Pagu é escritor, músico e artista plástico, cidadão do mundo”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Antes de dormir eu meio que crio uma agenda cronológica de onde devo ir e o que devo fazer pela manhã. Levanto cedo, raro eu levantar tarde. Faço e tomo café preto e geralmente com tapioca (típico de nordestino) enquanto olho as redes sociais, respondo mensagens, emails. Eu não sigo uma ordem do que faço, gosto de fugir da regra. Aí depois, é onde vou fazer minhas burocrática rotina de um adulto: banco, compras, essas coisas. Dependendo do semestre eu ponho algumas aulas pela manhã, acordo às 4h30 pra pegar um busão. Curso filosofia numa universidade estadual, daqui do Ceará (UEVA) e chego em casa às 13h e pouco.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu viajo muito devido aos shows, faculdade e por incrível que pareça, escrevo sempre no ônibus. O N’EU, de 2016/2017, foi escrito todo nas idas e vindas da faculdade. Lembro até de quando cheguei no último capítulo eu ouvia “uma furtiva lacrima” do Pavarotti e chorava horrores com o desfecho do romance, ai ai. Eu não tenho um horário específico. Me vem a ideia e eu uso o que for, apenas escrevo não perco a ideia, não perco o fio da meada… já perdi e me arrependi bastante disso. Eu fico observando tudo, há todo tempo, e não paro um instante sequer, estou sempre me movimentando em busca de idéias e solução para as mesmas. Eu sempre vou a fundo e tento criar um significado para o porquê de cada coisa. Por exemplo, “meu amigo tem medo de brigas” porque deve ter tido isso pra ele ser assim. É como uma soma de argumentos e eu vou chegando a uma interpretação de sobre como o ser humano, essa máquina incrível, funciona, assim também são minhas escritas. Gosto de me perguntar como chegar, ou não, a esse ponto final em cada verso, frase, texto e vida de personagens que também sou eu.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo sempre que surge o pensamento, mas estou praticando sempre, quase todos os dias. Sou muito grosso inicialmente. Escrevo até mesmo na mente, as vezes quando estou caminhando fico formulando frases e as repetindo para não perder.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu escrevo, escrevo, escrevo e escrevo. Depois releio e peço um outro olhar para ter a crítica, a visão de fora. Depois vou assimilando coisas e colocando em ordem o texto. Geralmente, quando nos minicontos, romance, prosa, eu crio a imagem das personagens na minha cabeça, vez em quando eu as encontro por aí e a imagem se afirma e nunca mais sai. Assim também são nos textos e poesias. Eu vejo as cenas, assisto tudo na minha imaginação como no “O fantástico mundo de Bob (desenho animado dos anos 90)”. Nas minhas pesquisas, leituras e escritas eu sempre gosto de me apegar a aquilo no momento, intensamente, eu meio que entro naquela ideia, na personagem, na crítica, até rasura, no momento e no porquê. As vezes me pego desenhando pra entender as cores das palavras e das situações que foram escritas. Começar é sempre fácil quando não se tem um caminho a percorrer, acredito que quase todo mundo já tenha começado escrever algo mas a responsabilidade de continuar é que difere o escritor, do leitor e enfim, chegar até o ponto final, matar personagens, criar locais, entrar na cena, além de doloroso e exaustivo é de grande responsabilidade, você precisa estar muito mais nas coxias do palco/texto à simplesmente sentado, como um criador.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu sempre achei, desde pequeno, que todo mundo tem algo a oferecer. Todo mundo. Eu, como artista, não sou diferente e me entrego de corpo e alma a isso. Estou sempre em busca de algo, de aprender, de fazer, logo, não me amedronto com o que vem depois. Eu vejo como importância mandar pro universo algo que um dia eu fui emissor, portanto, creio que os receptores também terão suas parcelas pois cada um interpretará de sua forma e quando se lança, já não é só meu.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso uma ou duas, pra ver coerência, coesão, e se certamente foi algo produtivo. Eu leio umas cinco vezes antes de publicar. Sobre erros e etc, sempre peço pra alguém fazer isso por mim, acho nobre essa revisão, esse feedback.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu uso muito o celular devido a comodidade. Mas eu escrevo onde e com o que eu tiver. Já cheguei a escrever na carteira de trabalho um texto quando estava dentro do metrô, em São Paulo. Tive que fazer outra carteira.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu, como disse anteriormente, sou um observador de hábitos, de pessoas, de animais, de artes, de letras e enfim. Gosto de música, de conversa, filosofia, misticismo, de pinturas, de viagens, de paisagens. O cotidiano, por exemplo, é uma inspiração estranha, árdua e maravilhosa. E por fim, a existência onde nela se vive os amores, as paixões e as dores, essas experiências de saber que resistimos a tanta coisa, continuamos errando, mas bravamente lutando para se acertar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Puts! Mudou muita coisa. Mas sabe, tem coisas de dez anos atrás que eu me pergunto: – Nossa! Fui eu? Mas também tem o outro lado de perceber sua evolução, crescimento, aprendizado. Eu não tinha tanta experiência sobre, não tinha tanta influência também. Eu diria pra mim do eu do passado: “agora não é o ponto final”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Deixo que flua, sem euforia, sem cobrança,sem pressa. Quando vier, ilumina e eu vou sentir, eu não me cobro. Já tenho coisas demais pra pôr responsabilidades a mais nessas costas. E sobre esse livro, ele deve estar na mente de algum gênio escondido por aí e é por isso que ele ainda não existe. É essa a chave da continuidade, quando acharmos que já vimos de tudo, nasce a semente do novo e a gente vai ver que uma nova era começou, é preciso reparar nas entrelinhas.